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“São quase seis e eu não sei se eu dormi / Ou atravessei outra noite sem sorrir”. Os versos iniciais de Sua Alegria foi Cancelada, música lançada em 2019 pelos gaúchos da Fresno, soam como um presságio.

A solidão forçada pelo COVID-19 tem feito muita gente passar noites em claro ou sonhar esquisitices. Por estarmos online 24/7 não há precedentes na história para o que estamos vivenciando. Nunca estivemos tão conectados, mas ao mesmo tempo nunca nos sentimos tão solitários.

Henry David Thoreau nos ensinou em Walden que somos nossa primeira companhia. “Se não a suportamos agora, se a tememos, se a desprezamos, dificilmente seremos boa companhia para alguém”. Olhando para o teto do apartamento 810 do condomínio Huay Kaew Place em Chiang Mai, Tailândia, onde estou preso pelas fronteiras e por meus pensamentos, reflito sobre tal ensinamento.

Este desejo de estar junto para não se sentir só pode revelar algumas coisas. Se você tem problemas com a sua própria companhia, se sua alegria foi cancelada com o isolamento social, talvez este seja um momento para se autoconhecer melhor.

Temos que aprender a passar tempo com nós mesmos. Não devemos transferir a responsabilidade da nossa alegria para outras pessoas. Isso não significa se isolar ou ser antissocial, mas, como diria Jean-Paul Sartre, “se você se sente só quando está sozinho, é porque está em má companhia”.

No último mês um tuíte dizendo que “somos todos pinturas do Edward Hopper agora” viralizou. Se, de fato, somos todos pinturas de Edward Hopper agora, nossa própria companhia pode ser uma das consequências mais difíceis do COVID-19.

Hopper fez da solidão o trabalho de sua vida. E ele nos mostra que não é preciso uma pandemia para nos isolarmos socialmente. Basta observar Nighthawks (1942), sua pintura mais famosa. A mensagem do artista é a de que a vida em sociedade pode ser muito solitária.

Nighthawks (1942), Edward Hopper.
Nighthawks (1942), Edward Hopper.

O que mudou de 1942 para cá é que hoje somos muito melhores em esconder nossa solidão. Em tempos normais, talvez estivéssemos agora em uma roda de amigos, cada um com seu celular, prestando atenção em sua tela, presentes fisicamente, mas distantes mentalmente.

A solidão moderna é um buraco negro que cabe em nosso bolso. E agora a arte de Hopper levanta uma reflexão importante: quando as liberdades da vida moderna são removidas e nossa alegria é cancelada, o que resta senão a nossa própria companhia?

Que utilizemos esses tempos difíceis para aprendermos a conviver com nós mesmos. Só assim conseguiremos desfrutar da nossa própria companhia e de outras pessoas quando tudo isso acabar.

Walden termina assim que o inverno acaba e a primavera chega. O lago começa o seu degelo, as aves retornam e a vegetação renasce. Que assim seja. Por enquanto, sigo como os versos finais da música da Fresno: “Acordei no meio da madrugada / E abracei com força o mais puro nada”.


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Escritor, educador e TEDx Speaker. Autor de "Nômade Digital", livro finalista do Prêmio Jabuti.
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