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Dia desses um leitor me perguntou no Instagram o que acho do Felipe Neto. Respondi que “não acho nada”. Meu interlocutor insistiu no assunto dizendo que o YouTuber presta um desserviço para a sociedade. Numa tentativa de me explicar, disse que “não acompanho o seu trabalho, então não tenho opinião formada”. A verdade é que, mesmo que eu tenha uma, por que diabos isso importa?

Umberto Eco, famoso escritor e filósofo italiano falecido em 2016, disse certa vez que “as redes sociais deram voz a uma legião de imbecis”. Na ocasião, durante seu discurso no evento em que recebeu o título de doutor honoris causa em comunicação e cultura da Universidade de Turim, o intelectual afirmou ainda que “normalmente, eles [os imbecis] eram imediatamente calados, mas agora eles têm o mesmo direito à palavra de um Prêmio Nobel”.

Em Para Roma com Amor, filme de 2012 de Woody Allen, o personagem Leopoldo Pisanello, interpretado por Roberto Benigni, vira famoso da noite para o dia e passa a ser perseguido por fotógrafos e admirado por multidões. Repórteres o indagam sobre seu café da manhã, a previsão do tempo e até mesmo o jeito como faz sua barba. Sem entender sua fama repentina e o interesse do público por episódios banais do seu dia a dia, ouve de seu motorista uma simples explicação: “você é famoso por ser famoso”.

Monica Nappo e Roberto Benigni em "Para Roma com Amor" (2012).
Monica Nappo e Roberto Benigni em “Para Roma com Amor” (2012).

Felipe Neto, que segundo meu leitor presta um desserviço pra sociedade, publicou recentemente em seu Twitter, onde é seguido por mais de 12 milhões de pessoas, que “forçar adolescentes a lerem romantismo e realismo brasileiro é um desserviço das escolas para a literatura”. Para o YouTuber, “Álvares de Azevedo e Machado de Assis não são para adolescentes e forçar isso gera jovens que acham literatura um saco”. Posteriormente, ele se explicou numa thread repleta de dados e opiniões de quem entende do assunto.

Concorde você com Felipe ou não – e muita gente não concordou –, o fato é que, dessa vez, pelo menos, o YouTuber utilizou sua voz para gerar um debate interessante. A literatura brasileira esteve nos trending topics do Twitter durante todo o final de semana. Milhares de pessoas contribuíram com suas opiniões que ninguém pediu sobre um post com outra opinião que ninguém pediu. Alguns desses opinadores, que receberam RT’s de contas com milhões de seguidores, tiveram, inclusive, seus quinze minutos de fama.

“No futuro, todos terão seus quinze minutos de fama”. (Andy Warhol)

Quando nossa voz pode calar outras

Como escritor que concorda em partes com o tuíte de Felipe Neto, senti uma necessidade instantânea de comentar algo sobre o assunto, ainda que me falte bagagem para tal.

Para não ficar de fora do hype, brinquei no Twitter que “A solução é proibir a venda de literatura para menores de 18 anos. Adolescente é rebelde, vai ficar curioso para experimentar um Machado de Assis”. Um comentário bobinho, que não acrescenta nada, apenas para fazer parte da conversa.

E aí está um dos grandes problemas das redes sociais.

Agora que nossas vozes podem chegar mais longe – umas mais, como a do Felipe Neto; outras menos, como a minha – sentimos essa necessidade quase que infantil de comentar sobre o assunto do momento.

O ponto é que quando Leopoldos Pisanellos resolvem dar pitacos sobre tudo, acabam calando, ainda que não seja a intenção, vozes que poderiam ser importantes para o debate. Isso aconteceu, por exemplo, durante movimentos como o Me Too e o Black Lives Matter, onde todo mundo queria dar sua opinião, gerando ruído e desinformação.

A solução pra isso?

Prefiro não opinar. Pergunte para o Felipe Neto.


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As redes sociais nos deram uma voz, mas não precisamos usá-la o tempo todo

Escritor, educador e TEDx Speaker. Autor de "Nômade Digital", livro finalista do Prêmio Jabuti.
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