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Um sujeito sentado com um MacBook caríssimo na beira da praia em uma ilha paradisíaca da Tailândia; uma narrativa que conta como ele largou tudo para empreender online; a promessa de ganhos fáceis pela internet; e um curso online que vai te ensinar a fazer tudo isso.

Parece familiar?

Imagino que você já tenha visto muitos anúncios desse tipo nas redes sociais.

Sim: é possível ganhar dinheiro pela internet com um trabalho online. Sim: é possível trabalhar de forma remota e construir fontes de renda recorrentes enquanto se viaja pelo mundo.

Eu mesmo sou prova disso: meu trabalho é 100% remoto e autônomo desde o início de 2017. Na verdade, a primeira versão deste texto foi escrita diretamente da… Tailândia!; com a diferença de que, em todas as vezes em que estive no país do Sudeste Asiático (quatro e contando), nunca fui louco de levar o meu MacBook caro para a beira da praia.

E é justamente por isso, por estar inserido nesse meio e ter sido por seis anos (2017–2023; ainda trabalho de forma remota para o Brasil, mas desde meados de 2023 fixei residência em Paris) o que chamam de nômade digital, sinto a responsabilidade de me posicionar contra o mundo de ilusões que é vendido por muitos gurus da internet.

Neste artigo, que não vai te deixar rico, quero mostrar a realidade sobre empreender e trabalhar pela internet. Os mitos e as verdades. O que é real e o que não é. O abismo que existe entre as promessas de lucros fáceis e a realidade do mercado.

Este texto não é um balde de água fria; mas sim um conselho amigo; uma dose de realidade para evitar que você quebre a cara lá na frente.

Antes de mais nada: marketing digital é um meio, não um produto

Este artigo não vai te deixar rico: mitos e verdades sobre ganhar dinheiro na internet

De tempos em tempos surge um novo método que promete altos lucros num curto espaço de tempo, mas isso não é uma exclusividade da internet.

Em 1910, um golpista chamado Charles Ponzi criou um negócio fraudulento baseado não na venda de produtos ou serviços próprios, mas na captação de novos investidores.

Bernard Madoff, ex-presidente da Nasdaq, enganou investidores durante duas décadas pagando retornos irreais em seus fundos de investimentos, naquele que ficou conhecido não apenas como o maior esquema de pirâmide financeira do mundo, mas também como o catalisador da crise financeira de 2008.

Entre 2012 e 2014, uma empresa chamada Telexfree, cujo modelo de negócios lembrava muito o de Charles Ponzi, enganou cerca de 2 milhões de brasileiros com a promessa de um alto retorno financeiro. Deram até um nome bonito para a prática: marketing multinível.

Pois bem, a bola da vez dessa galera que procura atalhos para ganhar dinheiro rápido é o marketing digital.

Como frases de efeito do tipo “ganhe dinheiro enquanto dorme” ou “ganhe R$ 1.000 por dia pela internet”, esses novos pupilos de Charles Ponzi vêm se aproveitando do desespero e da ingenuidade de milhares de brasileiros para vender cursos online de marketing digital que basicamente ensinam como criar outros produtos de marketing digital para outras pessoas que querem aprender sobre marketing digital.

O problema é que o marketing digital não é um produto, mas um meio para atingir um objetivo final. Dá uma olhada na definição elaborada pelo TechTudo:

“Marketing digital é o conjunto de atividades e estratégias utilizadas por uma empresa para vender em ambientes digitais. Para isso, a companhia faz uso de diferentes tecnologias que incluem, por exemplo, sites, blogs, e-mail marketing, buscadores como o Google e redes sociais, como Facebook, Instagram, Linkedin, WhatsApp, Twitter e Youtube.”

Viu como realmente não é um produto? Para deixar meu ponto ainda mais claro, separei alguns mitos e verdades sobre as principais atividades digitais que são vendidas em cursos online como promessa de ganhos rápidos e fáceis. Tudo o que está escrito aqui é baseado na minha experiência de uma década no mercado digital.

Marketing de afiliados

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O marketing de afiliados, também conhecido como programa de afiliados, é a porta de entrada para quem quer saber como ganhar dinheiro na internet.

Funciona assim: alguma pessoa ou empresa oferece um produto ou serviço em um site próprio, você se cadastra como afiliado e, caso alguém realize uma compra por meio do seu link, você recebe uma comissão.

Dinheiro fácil, certo? Errado.

Justamente por não conhecer a finalidade real do marketing digital, as pessoas quebram a cara trabalhando como afiliados. Acontece que para vender um produto ou serviço na internet, não basta sair enviando links por aí: é preciso estratégia – e a mais indicada para quem quer entrar nesse mercado é o marketing de conteúdo.

Exemplo: está tentando vender livros como afiliados? Escreva um artigo, em seu blog ou no LinkedIn, com uma lista de livros que você recomenda. É afiliado de um curso online sobre escrita? Crie um texto com dicas sobre o assunto e, ao final, mencione o curso.

A verdade sobre o marketing de afiliados é que ele não vai te deixar rico; por isso mesmo, vale mais a pena enxergá-lo como uma fonte de renda extra. Assim como acontece no marketing multinível, o dinheiro que é gerado nos programas de afiliados vai para quem está no topo da pirâmide.

Infoprodutos; cursos online, e-books e afins

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O mercado de infoprodutos virou uma febre. Você encontra um curso online sobre absolutamente qualquer tema.

Sabe por quê? Porque pode ser uma solução muito lucrativa.

Se no marketing de afiliados você ganha dinheiro com o conhecimento dos outros, com os infoprodutos você tem a oportunidade de monetizar seu próprio conhecimento, criando cursos ou e-books, por exemplo.

O que muita gente não sabe é que o processo de ganhar dinheiro com infoprodutos é demorado. Como em qualquer mercado, para vender seu produto você precisa ganhar a confiança do cliente.

No caso de cursos online e outros infoprodutos que caem dentro do nicho de educação à distância, as pessoas só comprarão o seu curso se te enxergarem como autoridade no assunto.

Veja meu caso: ofereço cursos online na área da escrita e, não vou mentir, ganho um bom dinheiro com eles. Mas antes mesmo de pensar em monetizar meu conhecimento, minha preocupação inicial sempre foi em produzir conteúdos úteis para as pessoas.

No meu blog, que existe desde 2013, tenho mais de 200 artigos sobre o universo da escrita. Além disso, tenho um livro publicado por uma grande editora.

Ou seja: as pessoas compram meus cursos porque meu trabalho passa credibilidade.

Quando você cria um infoproduto pensando apenas no dinheiro, sem antes ter apresentado um conteúdo gratuito e altamente relevante para seu público, você está apenas queimando etapas.

E-mail marketing

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Talvez você já tenha lido por aí que o e-mail marketing morreu, mas a verdade é que ele está mais vivo do que nunca.

Com o excesso de informação que vemos diariamente nas redes sociais, o papel dos curadores de conteúdo e a reformulação de formatos como o da newsletter são elementos cruciais para manter uma audiência engajada e, claro, vender online.

Mas para que as vendas aconteçam você precisa fazer isso direito. Muita gente busca atalhos e opta por comprar listas de e-mail. Isso é um tiro no pé. De que adianta ter na sua lista vários contatos aleatórios que não te conhecem?

Para que sua estratégia de e-mail marketing traga bons resultados você precisa trabalhar primeiro com a geração de leads, ou seja: atrair clientes em potencial. E você só vai atrair esses clientes para a sua lista se, mais uma vez, entregar conteúdos de valor.

Você pode utilizar “iscas digitais”, como um e-book gratuito ou oferecer conteúdos exclusivos em uma newsletter semanal para quem quiser se cadastrar. E lembre-se: nada de ficar enviando propaganda o tempo todo para a sua lista. Saiba a hora certa de vender.

Marketing de influência; as famosas ‘publis’

Nos últimos anos pipocaram histórias sobre aquele ou aquela digital influencer que construiu um império com fotos de viagem no Instagram, com vídeos de maquiagem no YouTube e/ou dicas de lifestyle nas redes.

No entanto, essas histórias de sucesso representam uma parcela mínima de influenciadores digitais que ficaram ricos. É como no futebol: sempre pensamos nos altos salários e carros de luxo de caras como Cristiano Ronaldo e Lionel Messi, mas a realidade é bem diferente. No Brasil, por exemplo, 82% dos jogadores ganham apenas um salário mínimo; e a situação das jogadoras mulheres é ainda pior.

Num perfil como o meu, na casa dos 30 mil seguidores, as marcas costumam pagar entre R$ 1.000 e R$ 1.500 na infame sequência de 3 stories + 1 post no feed (“infame” porque, muitas vezes, as agências que fazem a ponte entre as marcas e os influenciadores não conseguem enxergar além desse formato).

Assim como acontece com o e-mail marketing, muitos aspirantes a influenciadores digitais, na ânsia de terem ganhos rápidos, queimam etapas e compram seguidores. O problema aqui é que as marcas estão preocupadas com o seu engajamento, isto é, o alcance das suas publicações e as conversas geradas por elas. Por isso mesmo, números de seguidores muitas vezes não querem dizer nada.

Como disse Seth Godin, guru de marketing digital que vale a pena seguir e autor do livro Isto é Marketing, você não precisa de 100 mil seguidores, mas de 1.000 fãs verdadeiros que queiram comprar seus produtos.

Uma outra versão deste artigo foi publicada originalmente em 17 de agosto de 2020 em minha falecida coluna no blog do Oberlo.


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Escritor, educador e TEDx Speaker. Autor de "Nômade Digital", livro finalista do Prêmio Jabuti.
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