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Em 16 de janeiro de 2017 eu bati o ponto em um escritório tradicional pela última vez. Desde então tenho viajado o mundo enquanto trabalho de forma remota – sou o que chamam de nômade digital. Já trabalhei em coworkings, cafés e até na beira da piscina, mas o que gosto mesmo é de trabalhar em casa (neste caso em Airbnbs) com uma estrutura adequada e sem interrupções. Me sinto mais produtivo e consigo ter um melhor equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Em resumo, sou mais feliz.

Desembarquei em São Paulo no final do último fevereiro após uma curta temporada em Buenos Aires. A janela do escritório do meu Airbnb da vez tem vista para um desses prédios espelhados da Avenida Paulista. Durante o dia não consigo enxergar o movimento no interior dos escritórios caros, mas a noite sempre vejo uns poucos funcionários trabalhando até tarde no que imagino ser uma agência de publicidade. Como se os violistas do Titanic invadissem Mad Men em pleno 2021 pandêmico.

A pandemia de Covid-19 no Brasil, se depender das trapalhadas do Planalto, está longe de acabar. No LinkedIn, maior rede profissional do mundo, o assunto do momento é o futuro do trabalho: e se trabalhássemos para sempre de forma remota?

"Office at Night" (1940), por Edward Hopper.
“Office at Night” (1940), por Edward Hopper.

Um estudo realizado pela Corona em parceria com a Box1824 e o The Summer Hunter mostrou que a quantidade de brasileiros trabalhando de forma remota subiu de 1,2 milhão em 2019, antes da pandemia, para 8,9 milhões em 2020, durante a pandemia. De acordo com a pesquisa, 94% das empresas afirmam que atingiram ou superaram suas expectativas de resultados com o home office e 73,8% delas pretendem instituir o trabalho remoto como prática definitiva após a pandemia.

Lá fora, gigantes do Vale do Silício como Spotify, Twitter e Salesforce adotaram modelos de trabalho remoto híbridos ou permanentes. Quem é contrário ao home office costuma utilizar como exemplo o Yahoo!, que em 2013 baniu o trabalho remoto e trouxe os empregados de volta para os escritórios no mundo todo. A justificativa de Marissa Meyer, hoje ex-CEO da firma, era que manter os trabalhadores lado a lado torna as decisões mais ágeis. O que pode fazer sentido, já que a comunicação humana tem nuances que são perdidas sem o contato próximo, mas este discurso demonstra uma dificuldade de gerenciamento que vai além do trabalho remoto.

O fato é que, goste você ou não, o mundo do trabalho mudou e, no novo mundo, o escritório tradicional não faz mais sentido. O novo mundo é digital. Óbvio que cada caso é um caso e, sim, ainda podemos (e em muitos casos precisamos) ter escritórios físicos, mas eles precisam ser atualizados – e não falo de puffs coloridos ou mesas de sinuca; mas de rotinas, de flexibilidade, de confiança nos colaboradores que preferem trabalhar de casa.

Se eu acho que o escritório tradicional vai morrer? Dificilmente. Mas ele deve se chocar em breve contra um iceberg enquanto a banda toca e Don Draper fuma um cigarro.


Perguntas dos leitores

Quinzenalmente, às terças-feiras, é publicada no LinkedIn a minha newsletter “Nômade Digital“.

Tem alguma dúvida sobre o tema? Me escreve no @matheusdesouzacom no Instagram contando sua dúvida que a cada nova edição da newsletter respondei as três melhores.

@amandacolmenero: Você tem sido mais procurado agora na pandemia?

Amanda, por trabalhar 100% de forma remota desde 2017 e ter lançado o livro Nômade Digital em 2019, muitas empresas têm me procurado para palestras e treinamentos internos sobre trabalho remoto – serviços que, até então, eu não oferecia.

@real.cypher: Qual é a sensação de escrever/trabalhar em lugares diferentes?

Matheus, desde que me tornei um nômade digital, não lembro de ter passado por bloqueios criativos. Ou seja, o fato de estar sempre em movimento me enche de novos estímulos – e isso reflete no meu trabalho. A sensação é que sempre tenho uma nova história para contar.

@rodrigofj: Como você seleciona a próxima moradia e com quanto tempo de antecedência?

Rodrigo, geralmente utilizo o NomadList para ter uma ideia do custo de vida de cada cidade e conferir relatos de outros viajantes. Essa escolha é feita com, no mínimo, 1 mês de antecedência. Eu expliquei meus critérios de seleção neste texto.

Escritor, educador e TEDx Speaker. Autor de "Nômade Digital", livro finalista do Prêmio Jabuti.
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