Manifesto literário contra o SEO; ou o que eu aprendi escrevendo X textos na internet

Eu criei o matheusdesouza.com em 2013 sem nenhuma pretensão comercial. Melhor: sem nenhuma pretensão. A ideia era ter um espaço para falar sobre tudo e sobre o nada. Um diário, uma fuga. Um caderno público preenchido semanalmente com minhas vivências e aprendizados.

Aí comecei a trabalhar com marketing. Li que conteúdo é rei, aprendi a importância de otimizar meus escritos para os mecanismos de busca. Minha escrita mudou. As vivências se tornaram “o que eu aprendi com tal coisa”. As obras que li preencheram listas com “X livros que você deveria ler”. Os aprendizados se tornaram pretensiosos artigos sobre “como fazer tal coisa”.

Fiquei bom nisso. Empresas me contrataram para fazer o mesmo em seus blogs. Deixar o plugin de SEO do WordPress verdinho. Personas. Funil de venda. Gatilhos mentais. Me tornei freelancer em produção de conteúdo. Aliás, se você pesquisar no Google por “freelancer produção de conteúdo” ou “produtor de conteúdo freelancer” encontrará o matheusdesouza.com na primeira página. Orgânico.

Hoje minha principal fonte de renda são meus cursos online. Freelas só esporádicos. Tem que me pagar muito bem pra eu deixar o plugin de SEO do WordPress verdinho. Cansei. Agora só por grana. Muita. De preferência em euro. Dólar também ajuda. Virei puta de luxo no marketing de conteúdo.

Faz mais um teste aí. Joga no Google “curso escrita criativa” e “curso marketing linkedin”. Vai achar o matheusdesouza.com, o blog que nasceu sem nenhuma pretensão comercial, ou sem nenhuma pretensão, na primeira página. Tudo por causa de um trabalho de SEO bem feito; do plugin bem verdinho.

Isso sem falar nos artigos. Tem texto meu de 2017 com 500 visitas diárias até hoje. Procura por “livros para mudar a vida”. Vai cair no matheusdesouza.com.

Este manifesto não é para falar mal de técnicas de SEO – que evidentemente funcionam. É para recuperar a essência do que este espaço, o matheusdesouza.com, já foi um dia. Com este manifesto eu mato o produtor de conteúdo para que o escritor possa viver.

O que eu aprendi nesses anos como blogueiro independente é que a vida é curta demais para deixar o plugin de SEO do WordPress verdinho a cada texto. E que ninguém vai me levar a sério como escritor se eu continuar me escondendo atrás da alcunha de produtor de conteúdo; mesmo com um livro publicado que foi finalista do Jabuti.

O que os(as) leitores(as) podem esperar daqui pra frente no matheusdesouza.com é essência. Meus próximos textos provavelmente descansarão em paz no cemitério de páginas não otimizadas para mecanismos de buscas, mas vocês poderão ler aqui neste espaço crônicas e pequenos ensaios sobre minhas vivências e aprendizados ao redor do mundo.

Convido-os a, toda terça-feira pela manhã, digitarem matheusdesouza.com em seus navegadores – assim como fazíamos antes das redes sociais.

Deixo, oficialmente, de ser um produtor de conteúdo para me tornar um escritor flâneur, um observador do mundo em uma perspectiva panorâmica, sem me preocupar com frase-chave de foco, pré-visualização no Google, meta-descrição ou slug.