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Nessas minhas andanças pelo mundo sempre tento extrair o que há de melhor na cultura de cada país.

Na Itália conheci a arte de… não fazer nada. Dolce far niente, em italiano, ou a doçura de não fazer nada em uma tradução literal para o português, expressão que ganhou o mundo com o filme Comer, Rezar, Amar baseado no best-seller da autora Elizabeth Gilbert.

Para os italianos, esse conceito faz parte da vida cotidiana; passar um tempo com os amigos em um café, beber vinho ao pôr do sol, jogar conversa fora na praia. Dolce far niente é algo que os italianos fazem muito bem.

Nos falam que devemos aproveitar nosso tempo livre para fazer algo produtivo, que devemos acordar às 5h da manhã, tomar um banho gelado, mas… e se você reservasse um tempo todos os dias ou todas as semanas para experimentar o dolce far niente, será que sua qualidade de vida não melhoraria e, de quebra, o tornaria mais produtivo nos momentos em que, de fato, você deve ter mais produtivo?

Em vez de gastar o seu tempo livre atualizando a sua lista da Netflix ou rolando o feed do Instagram como se não houvesse amanhã… e se você não fizesse nada? Digo, nada mesmo –– meditação conta como algo, espertinhos.

Por “não fazer nada”, digo guiar esse seu tempo livre por instintos, não mais por uma agenda de “tenho duas horas livres hoje, então vou fazer tal coisa”. Não.

Thoreau já tinha dado essa letra em Walden.

“Quando saio de casa para um passeio, ainda indeciso quanto à direção que meus passos deverão tomar, e submeto a decisão ao meu instinto, descubro que, estranho como pareça, final e inexoravelmente, dirijo-me para sudoeste, no sentido de alguma floresta determinada, ou prado, ou campo deserto, ou colina”.

Foto: Postal italiano do início dos anos 1900 com a frase "dolce far niente".
Foto: Postal italiano do início dos anos 1900 com a frase “dolce far niente”.

Dolce far niente em três passos

1) Livre-se da culpa. Vivemos em uma sociedade doente em que todos dizem estar na correria, estressados, cansados, mas sem perceber que são os causadores de suas próprias correrias. Nesse contexto, um dia produtivo se torna o número de atividades realizadas, o que no longo prazo pode acabar com a sua saúde mental.

Aprenda que tarefas importantes e urgentes são coisas diferentes, não viva de acordo com a agenda de terceiros e livre-se da culpa de ter horas livres no seu dia.

2) Coloque o seu celular em modo avião. Quantas horas do seu dia você passa com o celular na mão? Digo, olhando notificações, assistindo stories no Instagram, enchendo sua cabeça de informações desnecessárias. Muito do nosso cansaço mental vem daí. Passamos horas e horas olhando para uma telinha, espiando o que nossos amigos e conhecidos estão fazendo, publicando fotos e opiniões que ninguém pediu em redes sociais.

O celular é um dos maiores inimigos do dolce far niente. Ele é um buraco negro que suga diariamente nossas energias. Se você realmente não precisa falar com ninguém naquele momento, coloque-o em modo avião. O mundo seguirá seu rumo normalmente se você não estiver online. Seus grupos de WhatsApp estarão lá quando você se conectar novamente.

3) Tire um cochilo depois do almoço. Para muitos aquele horário de intervalo para o almoço é a hora para ler um livro, ouvir um podcast ou fazer outra atividade que você tenha a impressão de estar sendo produtivo. Mas, que tal tirar um cochilo?

Dormir após o almoço traz benefícios para a saúde. Entre eles, inclusive, está a melhora na sua performance. Ou seja, aproveitar o seu intervalo de almoço para cochilar pode te deixar mais… produtivo! Mas, atenção: são só 40 minutos de sono. Não se passe.


Agora, se vocês me dão licença, me livrei da culpa faz tempo, meu celular está em modo avião, já almocei e vou tirar um cochilo.

Escritor, educador e TEDx Speaker. Autor de "Nômade Digital", livro finalista do Prêmio Jabuti.
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