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Da janela do sétimo andar do número 128 da Rue Ordener, em Montmartre, observo os transeuntes parisienses. Hoje acordei cedo pela primeira vez desde que cheguei em Paris, fiz café numa daquelas cafeteiras italianas, ovos cozidos do jeito que você gosta, com a gema molinha, e abri todas as janelas do apartamento para que a luz cinematográfica do sol invadisse o ambiente. Aposto que você tiraria uma foto.

Consigo nos imaginar num sábado à tarde fazendo um piquenique no Champ-de-Mars com a Torre Eiffel ao fundo. Uma garrafa de vinho desses de mercado, do mais barato, claro, uma barra de Milka, talvez um pote de Pringles.

Depois caminharíamos pelo Jardin des Tuileries, já um pouco embriagados, e você me pediria para tirar algumas fotos suas. As primeiras ficariam ruins e você diria “tira mais umas fotinhos?“. Ainda que contrariado eu tiraria.

Pegaríamos a linha 8 do metrô no sentido contrário e perceberíamos o erro apenas três ou quatro estações depois. Eu ficaria emburrado, você me pediria calma.

Já do lado certo faríamos uma baldeação para pegar a linha 12 e desceríamos na estação Jules Joffrin. De lá passaríamos pelo Cafe des 2 Moulins, o café da Amelie Poulain, você tiraria fotos da La Maison Rose, depois do Le Mur Des Je T’aime, que certamente renderia uma boa legenda no Instagram, eu pediria para visitar um local onde algum escritor famoso costumava frequentar e terminaríamos a tarde no happy hour de algum pub.

Você tomaria aperol spritz, eu um pint da cerveja mais barata, e assim que os preços voltassem ao normal iríamos embora. Você daria a ideia de irmos até as escadarias da igreja de Saint-Étienne-du-Mont, onde Gil Pender, personagem interpretado por Owen Wilson em Meia-Noite em Paris, filme de Woody Allen, costumava pegar carona num Peugeot 184 Landaleut que o transportava para o seu imaginário onde bebia com a turma da “Geração Perdida”.

Eu sugeriria comprarmos mais uma garrafa de vinho, você diria que já tínhamos bebido demais, eu ficaria emburrado e compraria duas cervejas. No caminho você comeria macarons e eu um kebab.

Esperaríamos os sinos da igreja Saint-Étienne-du-Mont nos avisarem que era meia-noite, eu te beijaria, você diria “é tão legal aqui, né?“, eu responderia que “sim“, perguntaria se mais que Roma, você diria que “não é pra tanto“.

Voltaríamos de Uber, subiríamos os sete lances de escada do edifício reclamando da falta de um elevador, riríamos da bagunça no nosso apartamento e nos deitaríamos exaustos na cama.

Faríamos planos para o dia seguinte, perderíamos algum tempo nas redes sociais, eu faria carinho no seu rosto e ao darmos nosso beijo de boa noite perceberíamos, ainda que em silêncio, que estávamos cansados demais para fazer amor.

Na manhã seguinte, quando a luz cinematográfica do sol invadisse mais uma vez o nosso apartamento, eu colocaria o álbum Histoire de Melody Nelson do Serge Gainsbourg pra tocar e nos abraçaríamos em frente à janela olhando para a Basílica do Sacré-Cœur. Eu diria que te amo, você responderia “eu também“. “Muito“, complementaria.

Aposto que você teria gostado daqui.

Publicado originalmente no Medium.

Escritor, educador e TEDx Speaker. Autor de "Nômade Digital", livro finalista do Prêmio Jabuti.
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