Quem vê Travis Barker lotando estádios com sua banda, o Blink-182, ganhando milhões de dólares com sua marca de roupas, a Famous Stars and Straps, ou então em vídeos no YouTube tocando com nomes como Slash (Guns ‘n Roses), Tom Morello (Rage Against The Machine), Eminem, Drake, Lil’ Wayne, Black Eyed Peas, Pharell Williams, Rihanna, Avril Lavigne, Demi Lovato ou Steve Aoki, não imagina o caminho tortuoso que aquele moleque fã do personagem Animal dos Muppets enfrentou até ser considerado o melhor baterista do mundo na atualidade e um empreendedor de sucesso. Ele é um exemplo de resiliência — termo bastante em voga no mercado de trabalho.
Travis nasceu em Fontana, na Califórnia, mas sempre soube que o mundo era um lugar maior do que a cidade do Condado de San Bernardino.
Desde pequeno batucava tudo o que encontrava pela frente. Aos 4, ganhou seu primeiro kit de bateria. Apesar de sua família ter origem humilde e morar num bairro pobre, sua mãe sempre o encorajou a tocar seu instrumento — ela o acompanhava em suas aulas de bateria e utilizava um gravador para que Travis pudesse continuar os exercícios em casa.
Com treze anos enfrentou a morte pela primeira vez. Um câncer levou sua mãe. Ficou devastado, mas não desanimado. Antes de morrer, ela lhe disse para continuar tocando bateria, que era bom nisso.
No ensino médio se juntou a banda marcial da escola. Os dias de colégio estavam chegando ao fim e sua orientadora vocacional sempre lhe perguntava seus planos para o futuro.
“Vou ser baterista”, ele dizia a ela.
“Não, Travis, isso não é realista. Você já considerou a faculdade comunitária?”.
“Fiz minha primeira tatuagem aos 16 anos. (…) Meu pai não queria que eu tivesse tatuagens, especialmente se elas fossem em algum lugar que ficasse à vista. ‘Ninguém vai te contratar com essa aparência’, disse ele. ‘Tatuagens são um empecilho. Você vai acabar sem emprego nenhum’. Isso ressoou muito forte para mim. Quando ele disso isso, eu pensei: exatamente. Eu queria não conseguir emprego algum. Quanto mais tatuagens eu tivesse, menos empregos eu conseguiria. A situação ideal, para mim, seria ser incapaz de conseguir um emprego normal e ser forçado a tocar bateria”.
Após terminar os estudos, formou sua primeira banda de punk rock, a Feeble. Mudou-se para Laguna Beach onde teve que se virar em diversos empregos que pagassem suas contas, já que a banda tocava, muitas vezes, sem cachê. Trabalhou como lixeiro, entregador de pizzas, vendedor, formou outras bandas que duraram menos de uma semana e, por um tempo, iniciou — ainda que de modo “alternativo” —, seu primeiro empreendimento: começou a fazer camisetas piratas de bandas.
O pai de um amigo tinha um negócio de impressão em sua garagem. Enquanto ele dormia, faziam camisetas das bandas que tocariam nos clubes locais e iam até os lugares com caixas e sacolas cheias de seus produtos. Vendiam o máximo possível até a polícia aparecer.
Logo em seguida foi convidado para tocar nos Aquabats, banda de ska que já tinha um certo destaque na cena californiana. Seriam suas primeiras turnês nacionais. Num desses shows, foi chamado para substituir o baterista do Blink-182, banda de pop punk que na época começara a tocar nas rádios e na MTV. Em princípio, seria algo temporário, mas o cara tinha sérios problemas com a bebida e Travis assumiu o posto de forma definitiva.
O resto é história. O Blink-182 dominou as paradas musicais no final dos anos 1990 e início dos anos 2000. O baterista ficou milionário, lançou sua marca de roupas, abriu restaurantes, sua própria gravadora, formou novas bandas e conheceu o lado negro do estrelato.
Seu casamento, que foi tema de um reality show da MTV, e o Blink-182, chegaram ao fim. Se afundou nas drogas. Sua outra banda, o Transplants, também encerrou suas atividades e, se não bastasse tudo isso, sofreu um terrível acidente de avião que vitimou três de seus melhores amigos.
Travis teve 65% do seu corpo queimado, mas sobreviveu. E renasceu das cinzas. Juntamente com suas bandas.
Em “Vivendo a Mil, Enganando a Morte e Batera, Batera, Batera“, sua autobiografia, o músico reflete sobre sua vida como astro do rock e fala de forma genuína sobre temas como paternidade, morte, perda e redenção ao compartilhar histórias moldadas por décadas de uma visão de mundo alcançada com muito suor.
“Suas memórias pulsantes são tão enérgicas quanto suas aclamadas batidas. Elas encerram os primeiros capítulos de uma vida bem vivida e inspiram os leitores a seguir os ritmos de seus próprios corações e a encontrar significado em suas vidas”.
Separei algumas das lições da história de vida de Travis Barker que todo profissional pode aplicar na busca por seus objetivos. Quando vemos rockstars na TV por vezes não imaginamos o duro que estes caras passaram para chegar onde chegaram.
Estudar vai te levar até certo ponto
Travis começou tocando — pasmem! — bossa nova e jazz. Porém, era apaixonado por hip-hop, punk rock e metal. Quando começou a, finalmente, estudar bateria de rock, seu professor, um baterista chamado Bobby Rock que já havia tocado com o Kiss e era formado na famosa Berklee College of Music, reassegurou que Travis estava no caminho certo, mas precisava criar sua própria paleta de cores como baterista. “Você toca jazz e música latina desde moleque“, disse ele, “bateria de rock vai ser fácil pra você — coloque tudo o que você já fez num caldeirão e deixe isso criar seu próprio estilo“.
“Estudar vai te levar até certo ponto — você pode ter toda a técnica do mundo, mas não é legal soar como um robô. (…) O objetivo é criar o seu próprio estilo. (…) Cresci aprendendo ritmos latinos e afro-cubanos, e até hoje encontro meios de aplicar isso”.
Você não precisa ser o melhor do mundo, mas precisa ser o melhor que puder
Para qualquer um que ama o que faz, a mediocridade não é o bastante. Uma coisa que Travis notou na indústria da música é que quem fez sucesso neste mercado não tem só talento: esses caras também têm ímpeto.
Há quem seja talentoso no que faz, mas quer esperar sentado que outra pessoa faça o trabalho de fato pra eles. É como qualquer negócio — é preciso ter o ímpeto de dar o seu melhor, ou você não vai chegar lá.
Em seu tempo livre, Travis praticava exercícios de bateria com as posições trocadas. Hoje, se considera ambidestro devido a prática. Isso o ajudou quando quebrou seu pé. O baterista montou seu kit de modo que pudesse tocar com apenas uma das pernas. Também já tocou apenas com um dos braços quando machucou seu punho.
“O Travis toca bateria o dia inteiro. Deve ser difícil manter essa disciplina — mas também o que faz ele tão bom. Ele leva uma vida muito regrada, o que é o oposto de mim”. (Tom DeLonge, Blink-182/Boxcar Racer/Angels & Airwaves)
Ninguém se importa, se esforce mais
Não é incomum Travis sair do palco e perceber que suas mãos estão sangrando, especialmente depois de uma ou duas semanas de turnê. Segundo ele, é só parte do trabalho e não gosta de reclamar disso.
Como ele sempre diz (e tem tatuado): “ninguém se importa, se esforce mais“.
“Travis é o cabra mais durão. Ele toca machucado. Depois de um show, vi o dedo dele rasgado, com o osso aparecendo. E ele nem demonstrava reação. Conheço muitos caras bons, mas ele é o músico mais talentoso e dedicado com quem já trabalhei”. (Tim Armstrong, Rancid/Transplants)
Tenha uma rotina interessante
Aos 13 anos e antes do Excel existir, Travis fez uma planilha com o que seria sua rotina de estudos. Itens como “determine alguns objetivos“, “divida seu tempo“, “misture“, “tenha um gravador à mão“, “resolva as questões técnicas primeiro“, entre outras notas — todas muito bem detalhadas.
“Um dia típico pra mim é acordar cedo, comer, treinar, tocar bateria, comer de novo, tocar bateria, treinar e ir dormir — não mudaria essa rotina por nada no mundo”.
Para Travis, você nunca deve se entediar! Sempre pode estudar e ficar mais esperto.
Feito é melhor que perfeito
Em 1999, assim que entrou no Blink-182 e ganhou notoriedade, Travis aproveitou o momento para fundar a Famous Stars and Straps. Em 2007, sua marca de roupas estava vendendo US$ 100 milhões por ano — Tommy Hilfiger e DC Shoes já tentaram comprar a Famous.
Porém, quando começou, não tinha ideia do que estava fazendo. Só queria fazer algo que ainda não existisse, algo que surgisse a partir do seu estilo de vida. Ele curtia skate, BMX, carros, tatuagens, rap, metal e punk. Não via nenhuma marca de roupas que refletisse essa mistura.
Criou algumas experimentações com impressoras digitais e, sempre que tinha um dinheiro extra, imprimia camisetas e adesivos. Ele era o responsável por tudo: administração, divulgação, vendas e distribuição. Quando ganhou seu primeiro cachê com o Blink-182, US$ 3 mil, investiu metade na Famous.
Sua falta de experiência era visível: Travis não sabia nem que precisava de um alvará para abrir uma loja.
Como tinha muitos amigos na indústria da moda, conversou com a eles a respeito desse meio e concluiu que, se eles poderiam vender camisetas, ele também podia.
E aqui temos uma lição dentro da lição: não tente fazer tudo sozinho. Travis sempre teve um time de amigos trabalhando com ele. Cometeram alguns erros no início, mas aprenderam à medida que seguiam em frente, sem diplomas e fazendo com as próprias mãos sem se preocupar em alcançar a perfeição.
Faça colaborações
Quando o Blink-182 e os Transplants encerraram suas atividades, Travis formou o +44 com Mark Hoppus (seu ex-companheiro de Blink) e começou a tocar em boates com o DJ AM (Travis e Adam Goldstein, o AM, foram os únicos sobreviventes do acidente que queimou 65% do corpo de Travis — AM morreria pouco tempo depois de overdose de comprimidos controlados).
Além disso, começou a remixar músicas de hip-hop e colocar os vídeos no YouTube. Em 2008, seu remix da música “Crank That”, do rapper Soulja Boy, alcançou 30 milhões de visualizações — algo incrível pra época.
Os vídeos abriram várias portas para Travis que passou a colaborar com grandes nomes do hip-hop e da música pop.
“Na época, eu não estava no Blink nem no Transplants, mas meus sonhos estavam se tornando realidade. O garoto que crescera ouvindo Beastie Boys, Whodini e KRS-One estava sendo chamado pelo Jay-Z para tocar no álbum da Beyoncé“.
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A principal lição que tiro da trajetória de Travis Barker é: esteja sempre aberto às mudanças! O baterista tocou em várias bandas, se virou como pode, foi do céu ao inferno e conseguiu retomar sua carreira após 27 cirurgias em virtude do seu acidente aéreo.
Para quem tiver curiosidade em ler sua autobiografia, Travis fala abertamente e de forma detalhada sobre sua luta contra as drogas e a recuperação — física e mental — após o acidente. Não quis entrar em muitos detalhes nestes dois pontos porque o foco do texto não era esse.
E aí, curtiu a história do Travis?
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