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Em janeiro de 1961 o músico Bob Dylan mudou-se para Nova York. Tinha a esperança de conhecer seu ídolo musical, Woody Guthrie, que estava internado em um hospital psiquiátrico com estado avançado do mal de Huntington, doença hereditária que causa a morte das células do cérebro.

“Você pode escutar suas canções e aprender a viver”. Bob Dylan sobre Woody Guthrie.

Guthrie é um dos maiores nomes da música folk estadunidense. Seu legado musical é composto por centenas de músicas, baladas e obras improvisadas que abrangem desde temas políticos, músicas tradicionais até canções infantis.

Quando Dylan começou sua carreira, sonhava em ser “o novo Woody Guthrie”. Até um crítico musical lhe dar um puxão de orelha e mudar os rumos da sua carreira. Essa história está em “Crônicas“, livro onde Bob Dylan conta sobre os primeiros anos de sua carreira.

O tal crítico o viu tocando em um bar, o chamou após o show e disse: “Você é um fake. Você nunca será Woody Guthrie, então pare com isso“. Por mais duras que fossem essas palavras, o crítico musical tinha razão. Dylan se ligou disso, encontrou seu estilo, experimentou a guitarra elétrica e o resto é história.

Além de ter composto alguns dos maiores clássicos da música mundial e introduzido a guitarra elétrica no até então conservador universo folk, em 2016 o músico foi laureado com o Nobel de Literatura por “ter criado novos modos de expressão poética no quadro da tradição da música americana”.

E, assim, tornou-se o primeiro e único artista na história a ganhar, além do Prêmio Nobel, o Oscar, o Grammy e o Globo de Ouro. Tudo isso porque deixou de ser uma cópia barata de Woody Guthrie.

A criatividade na Era dos Likes e Algoritmos

Ok, mas e nós, meros mortais que não somos o Bob Dylan e brigamos por audiência numa Era impulsionada por likes, engajamento, algoritmos e conversões?

A fórmula, se é que podemos chamá-la assim, é a mesma que Dylan encontrou: autenticidade através da experimentação.

Por mais que tenhamos essa impressão de que likes e algoritmos estão matando nossa criatividade, sempre foi assim. Mudam as ferramentas, mas a psicologia humana segue a mesma.

Artistas, empreendedores e profissionais criativos das mais diversas áreas seguem tendências desde sempre. Seja Bob Dylan copiando Woody Guthrie nos anos 60 ou a Apple copiando o mouse da Xerox nos anos 70 (e, ok, nesse caso, sendo criativos para encontrar um uso adequado para ele).

Nessa nova Era, empresas como Netflix e Nubank, por exemplo, se notabilizaram pelo excelente e criativo trabalho em suas redes sociais. Sempre de forma bem humorada e aproveitando-se de memes do momento, essas empresas tornaram-se sinônimo de criatividade quando o assunto é comunicação digital.

Com o sucesso desse tipo de conteúdo, várias empresas começaram a seguir a mesma fórmula: posts engraçadinhos e respostas por vezes infantilizadas. Porém, como para muitas empresas isso não é algo natural, ou seja, não está em seus DNAs, o tiro acaba saindo pela culatra. Não soa autêntico como soa (ou soava?) para Netflix e Nubank.

Apenas essa semana vi quatro postagens de empresas do mesmo segmento pegando carona nas declarações do ator Caio Castro sobre quem deve pagar a conta durante um encontro – fofoca off topic: o ator afirmou que vai processar marcas que se aproveitarem da polêmica.

Como o leitor deve imaginar, nenhum dos posts me impactou. Diferente, porém, de uma ação de uma fabricante de automóveis que fotografei quando desembarquei no aeroporto de Belgrado, na Sérvia, e mostrei neste post de 2019 que volta e meia é ressuscitado no LinkedIn.

Seguir tendências pode te garantir alguns likes, te dar alguns biscoitos e encher seu ego, mas pense em como você quer ser enxergado no futuro: “o novo Woody Guthrie” ou o “Bob Dylan”?

A experimentação sempre te colocará um passo à frente da concorrência

Foi Mark Twain que disse uma vez:

“Não existe uma nova ideia. É impossível. Nós simplesmente pegamos um monte de ideias antigas e, então, as colocamos em um tipo de caleidoscópio mental”.

O mundo das artes possui inúmeros exemplos de como a experimentação pode colocar seu nome na história. Grandes gênios das mais diversas áreas são assim considerados por causa do poder de experimentação em seus trabalhos.

Por mais que nenhuma ideia seja totalmente nova, e concordo com Mark Twain, o poder de conectar referências para criar algo que ainda não existe é a melhor maneira de estar sempre um passo à frente da concorrência. Afinal, o copiador nunca saberá qual será o seu próximo passo. Você tem a vantagem de ser a mente criativa que dita as tendências.

Mas, e se Bob Dylan tivesse começado sua carreira nos anos 2000, será que conseguiria se destacar ao fazer algo original? Afinal, para muitos a música hoje parece mais do mesmo.

Bom, vamos a um exemplo contemporâneo.

Em 2012 os australianos do Tame Impala lançaram o álbum “Lonerism“, um suspiro em meio ao pop enlatado da época que colocou o rock de volta nas paradas.

Porém, eles estavam há tempos na estrada experimentando. A banda foi fundada em 2007 e em 2008 lançou um EP homônimo bastante inspirado em Led Zeppelin, mas com um toque psicodélico que até hoje acompanha os trabalhos do Tame Impala. Em 2010, “InnerSpeaker” foi lançado deixando o mundo indie empolgado – apesar de as melodias lembrarem Beatles e Beach Boys, realmente soava como algo autêntico.

E aí voltamos para 2012. “Lonerism” não soa como Led Zeppelin, Beatles ou Beach Boys. Soa como Tame Impala. Por isso este álbum abriu os horizontes e encheu os bolsos da banda.

De 2012 até 2015, quando “Currents“, meu álbum favorito do Tame Impala, foi lançado, várias bandas tentaram replicar a sonoridade dos australianos. Algumas aproveitaram o hype e chegaram a tocar em grandes festivais na época.

Curiosidade: Kevin Parker, vocalista e “dono” da banda, é o responsável por criar as músicas, gravar todos os instrumentos e produzir os discos do Tame Impala. No vídeo acima vemos um pouco do seu processo criativo e sua experimentação em tempo real. Em uma entrevista de 2015, ele afirmou ter gravado 1003 takes diferentes nos vocais de uma faixa de “Currents”, tamanha sua experimentação.

As bandas que aproveitaram o nicho criado pelo Tame Impala em 2012? Sequer lembro o nome delas… Já Kevin Parker, além de ter enchido sua estante com prêmios, colaborou nos últimos anos com nomes como Mark Ronson e Lady Gaga e teve versões de suas músicas gravadas por Rihanna e Arctic Monkeys.

(Re)Aprendendo a experimentar

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