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Eu cresci ouvindo sobre a importância do QI. Não o quociente de inteligência, evidentemente, mas a sigla utilizada de maneira informal para abreviar a expressão “quem indica”. Ou seja, aquele tipo de situação em que um profissional é indicado por alguém bem relacionado para determinada vaga de emprego.

O problema é que, citando os famosos versos de Belchior, eu era “(…)apenas um rapaz / latino-americano / sem dinheiro no banco / sem parentes importantes / e vindo do interior”.

belchior

Fui jogado no mercado de trabalho sem muitas opções. Alguns diplomas, muitas dúvidas e nenhuma referência. A primeira opção, como é para muitos jovens recém-formados, seria a aprovação em algum concurso público qualquer. Não rolou.

A segunda, e naquele momento a única, seria me mudar de cidade e tentar a vida em outro lugar. Me vi então em meio a recortes de jornais de vagas pouco promissoras em cidade vizinhas. Fui chamado para uma delas, passei na entrevista e em pouco tempo estava trabalhando em uma cidade em que eu conhecia ainda menos pessoas.

O que fazer em uma situação dessas além de trabalhar duro? Que atalhos pegar?

As dicas que recebi – e que felizmente não apliquei

Se você trabalha em uma filial de uma grande empresa, como era o meu caso, te falam para aproveitar os eventos regionais para conhecer o pessoal da matriz. Não para ser legal com aquelas pessoas ou tentar aprender algo com elas, mas para ter contatos. Contatos. Uma maneira elegante de chamar aqueles que você pretende usar, assim como faz com seus objetos, enquanto busca aumentar o seu percentual de QI – de novo, não o quociente de inteligência.

Te falam também para fazer parte de grupos voluntários como o Rotary. Não para prestar serviços para a sociedade, esse pessoal evidentemente não está interessado em políticas públicas – dizem até que isso é coisa de comunista –, o negócio é fazer caridade para ficar bem na fita e, claro, fazer o tal networking. De novo, contatos. Um convite para fazer parte da maçonaria é bônus. Já ouviu aquele papo de que “somos a média das cinco pessoas com quem passamos mais tempo”? Então, essa é a sua chance de ouro.

Essa frase da “média das cinco pessoas”, aliás, já foi muito usada por mim. Até escrevi texto sobre isso (e não o linkarei aqui por vergonha). Me arrependo. Embora ela, a tal frase, faça algum sentido, sua interpretação, geralmente, ultrapassa a linha tênue entre “networking” e “alpinismo social”.

Aproximar-se de alguém apenas por interesse pode ser chamado de várias coisas, menos de networking. Networking é sobre criar conexões genuínas, conhecer pessoas que pensam como você, compartilhar habilidades para, aí sim, crescer profissionalmente. Uma abordagem que ultrapassa essa linha e não busca uma relação ganha-ganha separa o networking do alpinismo social.

O que mudou no alpinismo social de quinze anos atrás – quando entrei no mercado de trabalho – para cá é a forma como ele tem sido feito. Com as redes sociais, tudo o que você precisa para aumentar o seu QI é tornar-se uma autoridade digital no que faz. Ou fingir ser uma.

Alpinistas sociais 2.0

Se o papel aceita tudo, a internet deu voz aos alpinistas sociais e é a responsável pela distribuição imediata dos convites para cafés com segundas intenções dessas pessoas – que têm usado muito bem as redes sociais em suas escaladas.

Nimrod Kamer, escritor de comédia, publicou um livro intitulado The Social Climber’s Handbook: A Shameless Guide em que faz piada com alpinistas sociais que utilizam-se de técnicas controversas, para dizer o mínimo, em suas tentativas de alcançar o topo de suas montanhas virtuais.

alpinistas sociais“Compre seguidores falsos, comentários falsos e curtidas falsas. Você vai criar muitos empregos em Bangladesh. A maioria das fazendas de cliques está localizada na Ásia. Por que pagar ao Facebook por um anúncio para promover o seu conteúdo quando você pode pagar diretamente aos agricultores?”

Uma empresa dificilmente investirá em algum influenciador digital, pseudo ou não, que tenha utilizado a técnica descrita por Nimrod. Mais do que números, marcas buscam por credibilidade – e isso você não encontra em fazendas de cliques asiáticas, em bots russos ou em um perfil que assinou o Twitter Blue do Elon Musk só para ganhar o selinho azul de verificado e publicar prints dos seus posts em outras redes.

Essa escalada virtual, ainda que por meios duvidosos, costuma enganar os mais ingênuos. Você recusaria tomar um café com alguém que tem mais de 100 mil seguidores, um selinho azul de verificado, parece ser bem-sucedido no que faz e quer te propor uma parceria? Provavelmente não. A maioria não recusa. E é aí que os alpinistas sociais vão se tornando cada vez mais bem relacionados e em pouco tempo aparecem em um palco qualquer dando uma palestra sobre qualquer coisa.

Isso é uma verdade absoluta?

Esse texto é uma opinião. A minha opinião. Eu sigo sendo o cara da canção do Belchior, mas, quinze anos depois, após trabalhar um bocado e me ferrar muito sem o tal do QI, construí uma certa reputação no que faço e criei relações verdadeiras.

Por ter vindo de baixo, da base da montanha, hoje consigo enxergar com clareza quando um alpinista social faz uma abordagem duvidosa em minha caixa de entrada. Seja para tomar um café, participar de uma live, gravar um podcast ou fazer parte de algum “grupo de engajamento” no WhatsApp.

“Mas não se preocupe meu amigo

Com os horrores que eu lhe digo

Isso é somente uma canção

A vida realmente é diferente

Quer dizer

Ao vivo é muito pior”.

Trecho de Apenas um rapaz latino-americano, por Belchior.

Beleza, mas e como fazer networking sem parecer um alpinista social?

Caso você tenha se identificado com o texto – e com a música do Belchior –, talvez tenha interesse em saber como faço para fechar os meus contratos sem parecer um alpinista social.

Há uma verdade nesse negócio de QI: sem contatos não se consegue contratos (eu sei que a frase é boa, então caso você queira compartilhá-la por aí, favor dar créditos, ok? haha – sério, ela é minha, você pode pesquisar com aspas no Google para checar a veracidade).

No meu curso de Marketing Pessoal e Produção de Conteúdo no LinkedIn eu ensino, principalmente, duas coisas: 1) como construir relações de valor sem parecer um alpinista social e 2) como “ser visto” no LinkedIn através da produção de conteúdo.

Em 2018, quando o LinkedIn divulgou sua nova lista de Top Voices, fui citado por um terço dos indicados como referência – de 2018 para cá 12 alunos meus saíram na lista de Top Voices.

Isso significa que o meu curso forma Top Voices? Não necessariamente. Não tenho como garantir isso para você. Mas, vou te dizer que se você fizer tudo direitinho e ter consistência as chances são grandes, hein?

Agora, uma coisa eu garanto: as estratégias ensinadas no curso vão te ajudar a ser visto na rede – e criar contatos que podem virar contratos.

Escritor, educador e TEDx Speaker. Autor de "Nômade Digital", livro finalista do Prêmio Jabuti.
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