Após duas semanas em Chiang Mai e uma noite em Phuket, desembarco na ilha de Phi Phi às vésperas da virada de 2562 para 2563. Não, você não leu errado. O calendário tailandês é contado a partir da morte de Buda e o Songkran, festival que celebra o Ano Novo Budista, ocorre anualmente de 13 a 15 de abril.
Nessa época do ano, milhões de turistas visitam o país para participar de uma espécie de carnaval de rua onde onde a população, munida de pistolas de plástico carregadas com água, diverte-se molhando uns aos outros durante três dias.
Com as fronteiras internacionais recém-fechadas, encontro uma Phi Phi bem diferente daquela que conheci em 2017. Praias vazias, resorts oferecendo diárias pela metade do preço, restaurantes e bares fechados – incluindo meu favorito, o Reggae Bar, que tem um ringue de muay thai bem ao centro onde turistas bêbados cortam a umidade do ar com golpes cambaleantes.
Perto do Reggae Bar, que está às moscas, conheço Ricardinho, carioca que mora há dois anos na ilha e, com o sotaque característico de quem nasceu na cidade maravilhosa, me conta que o transporte em Phi Phi deve ser suspenso nos próximos dias. Ou seja, caso eu não pegue um barco de volta para Phuket, poderei ficar literalmente ilhado, sem conseguir voltar para o meu Airbnb em Chiang Mai.
Acesso o site de um jornal local e constato que Ricardinho tinha razão. O governo tailandês acabara de anunciar um lockdown com início na próxima semana para tentar conter a pandemia de Covid-19. O Songkran estava cancelado.
De volta a Chiang Mai passo os dois próximos meses trancado em casa. O lockdown funciona e a vida volta ao normal – o Reggae Bar, em Phi Phi, funciona a todo vapor. O balanço da pandemia até então é de 58 mortos e 3.171 infectados.
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Deixei a Tailândia em meados de setembro de 2020 – ou de 2563. Com a pandemia controlada, o governo decidiu reabrir, ainda que com restrições, suas fronteiras internacionais. Na última semana, novamente às vésperas do Songkran, o país registrou um novo pico de infecções – entre ontem e hoje a média foi de 900 novos casos.
A vacinação em massa ainda não começou e, por prevenção, escolas e bares foram fechados. O Ano Novo Budista, mais uma vez, foi cancelado.
2564 começa na Tailândia com cara e jeito de 2563, mas com a disciplina de quem já controlou a pandemia uma vez. O cuidado com o coletivo, assim como em 2563, é a lógica que prevalece. Que sirva de exemplo.