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Exma. Sra. Yoko Ono Lennon,

A declaração de Nutopia, assinada em 01 de abril de 1973 por Vossa Excelência e pelo então embaixador Exmo. Sr. John Ono Lennon, diz que sua nação “não possui território, não tem fronteiras, não emite passaportes; possui apenas gente”.

Declaração de Nutopia, por John e Yoko Ono Lennon.
Declaração de Nutopia, por John e Yoko Ono Lennon.

O próprio John, e aqui deixo as cordialidades de lado, imaginou em sua canção mais famosa um mundo sem fronteiras delimitadas pelo homem.

Nasci no ano de 1989 em Santa Catarina, estado que faz parte da República Federativa do Brasil, mas aqui recorro ao filósofo Sócrates para dizer que não me considero nem catarinense, nem brasileiro; sou um cidadão do mundo.

E, no meu caso, este sentimento de não pertencimento descrito por Sócrates não é apenas filosófico; desde 2017 não possuo residência fixa. Vivo, por opção, uma vida nômade onde o mundo é minha casa.

O problema, Yoko, é que, embora eu me considere um cidadão do mundo, o mundo me considera um cidadão brasileiro, e, por causa do meu passaporte, no momento estou impedido de entrar em mais de 100 países.

Isto ocorre porque o governo do país onde nasci tem se mostrado incapaz de conter a disseminação do Covid-19. A comunidade internacional fechou suas fronteiras para brasileiros porque a postura negacionista do presidente Jair Messias Bolsonaro, que desde o início da pandemia tem sabotado as medidas propagadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), já matou quase 300 mil pessoas no Brasil e tornou o país um celeiro de novas variantes do vírus.

Para você ter uma ideia do caos, Yoko, o presidente Bolsonaro anunciou no último dia 15 o seu 4º ministro da Saúde desde o início da pandemia. A bagunça é tanta que ele deveria assumir o cargo hoje (23), porém, a cerimônia de posse foi adiada e ainda não temos uma nova data. Ou seja, na pior fase da pandemia no Brasil, o país possui dois ministros da Saúde: um que está de saída e outro que ainda não assumiu suas funções.

Ser um cidadão do mundo não significa esquecer sua pátria e renegar suas origens. Significa não ter fronteiras dentro de si. Significa romper barreiras culturais e linguísticas. Significa sentir-se em casa em qualquer lugar do mundo. Você, Yoko, nascida no Japão, radicada nos Estados Unidos e embaixadora de Nutopia, sei que sabe o que tudo isso significa.

É por isso que, diante do exposto e, tendo em vista que sua nação não emite passaportes, não tenho a intenção de me tornar um cidadão nutopiano, mas solicito asilo político até 01 de janeiro de 2023 – com a possibilidade de renovação por mais 4 anos.

Políticos vêm e vão e acredito, de verdade, num futuro melhor para o Brasil e seus cidadãos. Alguns podem até dizer que sou apenas um sonhador, mas você, Yoko, sabe mais do que ninguém que não sou o único.

Com amor,

Matheus de Souza

Cidade do Cabo, África do Sul, 23 de março de 2021.

Escritor, educador e TEDx Speaker. Autor de "Nômade Digital", livro finalista do Prêmio Jabuti.
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