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No início do último mês, minha esposa comprou um livro chamado “#GirlBoss”. Semanas depois, a Netflix lançaria uma série original de mesmo nome.

E este é um daqueles casos em que julgamos o livro pela capa — rosa e com a foto de uma bela jovem maquiada e seu corte de cabelo da moda. Mesmo me policiando o máximo possível para não ter aqueles velhos pensamentos machistas dos quais, infelizmente, crescemos ouvindo por aí, em minha cabeça aquele deveria ser um livro de “mulherzinha“.

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Deveria.

O subtítulo dizia que sua autora, Sophia Amoruso, era uma executiva de 100 milhões de dólares, fundadora do site Nasty Gal.

Nasty Gal. Esse nome não me era estranho. E durante o texto você verá o porquê.

Agora, se você, assim como eu ao olhar para a capa do livro, não está contextualizado sobre quem é Sophia Amoruso e o que ela faz, isso é o que precisa saber:

Em 2006, aos 22 anos de idade e após passar por vários empregos no início de sua vida adulta — apenas para ter direito ao plano de saúde —, Sophia resolve garimpar roupas vintage em brechós para vendê-las no eBay. Segundo a Forbes, com apenas seis anos de existência, a empresa já tinha vendido mais de US$ 300 milhões de dólares.

Hoje, a Nasty Gal passa por um período conturbado — e controverso. Foi vendida, sua fundadora deixou o cargo de CEO e, logo em seguida, a companhia entrou em processo de falência — em tempo: o processo de falência nos Estados Unidos é diferente do que ocorre aqui no Brasil. A Nasty Gal segue operando e, por ser algo recente, você não encontrará informações sobre isso no livro ou na série da Netflix.

Dito isso, vamos ao livro. Confesso que eu estava preparado para uma dose cavalar de clichês. Coisas como “corra atrás dos seus sonhos e etc“. No entanto, Sophia dá detalhes incríveis sobre como o negócio evoluiu do absoluto zero até se tornar um império fashionista. Ela se utilizou do marketing digital e de conteúdo muito antes de se falar sobre isso — e diretamente do finado MySpace!

Separei algumas lições e passagens do livro que mais me chamaram a atenção em #GirlBoss. Você entenderá porque essa hashtag já foi citada mais de 5 milhões de vezes no Instagram. Não é apenas um título de livro cativante: é um movimento!

1 – Decida quanto tempo tem para se dedicar a isso — e não se demita (ainda)

Já escrevi sobre quando me demiti para ser freelancer. Não foi uma decisão por impulso, foi algo planejado. Assim como eu, no início, Sophia trabalhava durante o dia num emprego convencional e em suas horas livres se dedicava ao seu futuro empreendimento. Isso significa dedicação total. Nada de baladas, TV, videogames ou qualquer outra distração. Será um período difícil, mas necessário.

“Então você decidiu assumir uma nova responsabilidade e começar um negócio (…). Primeiro deve decidir quanto tempo tem para dedicar a isso. Sugiro que não peça demissão do emprego atual (ainda)”.

Starting an eBay Business For Dummies.

Diferente do discurso de muitos gurus por aí, você não deve se demitir assim que começar seu negócio.  Acredite: é um risco que você não precisa e não deve correr. Lembre que o mercado está num período turbulento, então deixe seu emprego apenas quando conseguir igualar seu salário — ou chegar próximo. Foi o que eu fiz. Foi o que a Sophia fez. Tem dado certo pra gente — guardadas as devidas proporções, obviamente.

2 – Invista em conhecimento

Sophia não tinha feito faculdade e não fazia ideia de como tocar um negócio. Ela tinha um ótimo olhar para garimpar as peças de roupas nos brechós e conhecia bem o público que consumia esse tipo de produto — afinal, era uma delas —, mas isso não era suficiente para empreender.

A primeira coisa que fez foi comprar o livro “Starting an Ebay Business For Dummies” (“Como Começar um Negócio no eBay para Principiantes”). Foi através dele que aprendeu como tocar sua loja — desde a escolha do nome até o fluxo de caixa.

Recorri ao YouTube para assistir a especialistas falando em conferências para as quais eu não teria sido convidada mesmo se tivesse condições de pagar. Aprendi um monte de coisas sobre como estruturar a Nasty Gal analisando empresas semelhantes para ver quem eles haviam contratado e quem estavam contratando. Depois via o perfil dessas pessoas no LinkedIn para saber que experiência era necessária para tornar esse trabalho bem-sucedido.

— Sophia Amoruso

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Meu caso também foi parecido. Apesar de hoje trabalhar com marketing, essa não é minha formação. Eu aprendi a parte digital na prática, mas me faltava a parte teórica do marketing em si — e eu não tinha tempo para me matricular em outra faculdade. Precisava de algo rápido e online que me desse todas as bases para fazer a gestão de marketing do meu negócio. Investi num curso que preenchia esses requisitos e hoje utilizo todo este conhecimento no dia a dia.

3 – Crie conteúdo — isso é marketing gratuito

Hoje se fala muito em marketing de conteúdo, mas e em 2006?

Sophia tinha um diferencial na divulgação de suas peças. Enquanto a concorrência divulgava apenas fotos dos produtos, a Nasty Gal criava looks com suas peças. Como tinha boas noções de fotografia, ela mesmo vestia as roupas e fazia auto-retratos. Conforme o negócio foi evoluindo, chamava amigas ou modelos em início de carreira e fazia o pagamento através de permutas.

Com sua estratégia de criar conteúdo, Sophia, sem perceber, estava fornecendo às suas clientes um serviço de orientação de estilo. Ela incluía cada peça de roupa numa produção dos pés à cabeça, do cabelo aos sapatos, mostrando às meninas também como se produzir. Além disso, exaltava os detalhes ao descrever os produtos.

A rede social que bombava na época era o MySpace. Para divulgar sua loja online e seu conteúdo, Sophia fazia algo que fiz muito no LinkedIn: pesquisava por perfis de interesse e os adicionava! Ela chegou a contratar um software que automatizava isso, algo contra as políticas do MySpace, mas que dava um excelente retorno. Com dezenas de milhares de conexões adicionadas, a Girl Boss gerava conteúdo e direcionava aquele público para a loja da Nasty Gal.

Eu não percebia na época, mas o que eu estava fazendo incluía duas técnicas para administrar um negócio bem-sucedido: identificando o público-alvo e sabendo como fazer marketing de graça.

— Sophia Amoruso

A atitude de adicionar estranhos, independente da rede social, é algo controverso, mas, como mencionei, também já fiz muito isso e com o mesmo objetivo: fazer marketing de graça. A cada novo artigo publicado minhas conexões recebiam uma notificação. Isso fez o alcance dos meus textos ser muito maior, já que a cada compartilhamento, curtida ou comentário, um novo ciclo de pessoas fora da minha rede tinha acesso ao que escrevi.

4 – Não seja refém de uma plataforma — e esteja sempre presente

Como sabemos, o MySpace já era. Por mais que sua audiência estivesse concentrada por lá, Sophia acompanhou as evoluções das mídias e sempre esteve presente nas mais variadas plataformas.

E por presente, eu digo presente mesmo.

Na maioria das empresas, a pessoa que opera as contas do Twitter e do Facebook está longe do topo da cadeia alimentar. Mas na Nasty Gal, embora eu não esteja sempre compondo cada tuíte, eu ainda leio todos os comentários (…). Quando a Nasty Gal entrou no Snapchat, isso significou que eu entrei no Snapchat. Enviei alguns Snaps e as clientes responderam em peso. Não há nada mais emocionante que enviar mensagens privadas direto a uma cliente e ver o que ela tem a dizer em resposta.

— Sophia Amoruso

Além disso, a empreendedora possui seus próprios canais através dos blogs da Nasty Gal e do seu pessoal, o Girl Boss.

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PS: Lembra que lá no início falei que o nome Nasty Gal não me era estranho? Eu já havia me deparado com a marca nas redes sociais.

5 – Empreender é sua onda?

Para Sophia, existem dois tipos de empreendedores:

Os que abrem um negócio porque estudaram e escolheram fazer isso e o que fazem isso porque realmente é a única opção. Ela se encaixa na segunda categoria.

Quando eu tinha 22 anos, a ideia de crescer dentro de uma organização era totalmente incompreensível. Para mim, empregos de escritório eram como a escola, onde a melhor forma de se dar bem era chegar no horário, não fazer perguntas, seguir todas as regras e não fazer rebuliço. Mais uma vez, não é a minha onda.

 — Sophia Amoruso

Saiba que “as pessoas com espírito empreendedor são apaixonadas pelo que fazem, ficam à vontade ao correr riscos e são rápidas para seguir em frente após um fracasso“. Essa é sua onda?

6 – Tenha uma filosofia

Não falo de um quadro arcaico e decorativo com missão, visão e valores que não dizem nada para os funcionários.

Ter uma filosofia significa seguir um conjunto de diretivas que alinhem a organização para focar no que realmente interessa.

A filosofia da Nasty Gal, por exemplo, pode ser aplicada a qualquer carreira.

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Obsessão da Nasty Gal: Mantemos o cliente no centro de tudo que fazemos. Sem as clientes, não temos nada.

Manda ver: Domine a bola e corra com ela. Nós tomamos decisões inteligentes, colocamos o negócio em primeiro lugar e fazemos mais com menos.

Pessoas são importantes: Interaja, faça amizades, conquiste sua confiança.

Sem babaquice: Deixamos o nosso ego do lado de fora. Somos respeitosos, colaboradores, curiosos e temos a mente aberta.

Sempre aprendendo: O que estamos construindo nunca foi construído antes — o futuro somos nós que escrevemos. Ficamos animadas com o crescimento, assumidos riscos inteligentes e aprendemos com os nossos erros.

Divirta-se e mantenha excêntrico!


Assim como outras personalidades geniosas, tipo Steve Jobs, por exemplo, algumas atitudes e comportamentos de Sophia Amoruso atravessam a linha tênue da ética. Isso pode ser visto, principalmente, na série da Netflix. Porém, suas lições são valiosas e tenho certeza que, independente do seu segmento, caso você tenha a ideia de iniciar um negócio do zero, a Girl Boss é uma excelente fonte de inspiração!


E aí, gostou das dicas?

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6 lições da ‘#GirlBoss’ Sophia Amoruso para você começar um negócio do zero

Escritor, educador e TEDx Speaker. Autor de "Nômade Digital", livro finalista do Prêmio Jabuti.
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