Os clientes confiam mais nas pessoas do que nas empresas e é por isso que você deve se concentrar na construção de sua marca pessoal. Independente de você trabalhar por conta própria ou não. Isso é fato.
Porém, de uns tempos pra cá, o tema marca pessoal está supervalorizado — para não dizer banalizado. Alguns gurus (cara, como eu odeio esse termo) sugerem que você pode alavancar sua carreira em até 439% (não sei de onde eles tiram esses números) utilizando técnicas infalíveis para construir uma reputação digital.
Não se engane com esses caras. A marca pessoal é algo que você não controla completamente.
O conceito de “trabalhar a marca pessoal“, pra falar a verdade, não é algo novo. Quando entrei na faculdade, em meados de 2007 — Dale Carnegie já tinha dado a letra em “Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas“ — se falava sobre a importância de se construir uma boa reputação.
O que mudou de lá pra cá é como esse conselho é dado e aplicado hoje em dia. A internet maximizou o alcance do que chamávamos na faculdade de EPN: os famosos Especialistas em Porra Nenhuma. São caras que viram uma dezena de vídeos no YouTube sobre tal tema ou leram “Trabalhe 4 Horas por Semana” — não me entenda mal, este livro mudou a minha vida — e se consideram autoridades digitais sobre determinado assunto.
Recentemente, por exemplo, li um artigo de uma famosa especialista em branding que oferecia uma dica matadora sobre como ela editou sua foto de perfil no Photoshop — simplesmente alterou os níveis de contraste e brilho — e o resultado foi incrível! Ela ganhou mais de 100 curtidas no Facebook!
Cara, peraí. Muita calma nessa hora. Ter uma foto profissional no seu perfil é legal e eu, inclusive, recomendo isso. Mas, você não pode mensurar resultados através de curtidas!
Esse tipo de coisa tem impacto zero nas suas contas lá no final do mês. São métricas da vaidade. Em qualquer curso de marketing que você fizer duvido que algum professor mencionará que ajustar o brilho e o contraste da sua foto aumentará seus ganhos — aliás, se você não é um profissional de fotografia, te aconselho a não se arriscar com isso.
As pessoas que afirmam que uma marca pessoal é algo que você pode trabalhar completamente desconsideram algo extremamente importante:
Uma reputação é um subproduto do seu trabalho. A única coisa que você tem controle são suas habilidades. Você pode trabalhar para melhorá-las e, a partir daí, construir uma reputação.
Reputação se conquista
Uma reputação é basicamente a percepção que os outros têm de você. Você não pode controlar isso, como vimos acima.
Mas, o que influencia numa reputação?
- Fazer um grande trabalho.
- Fazer com que as pessoas saibam disso.
“Sua marca é o que as pessoas dizem sobre você quando você não está na sala“, Jeff Bezos, fundador da Amazon.
O que tenho visto é uma inversão desta ordem. Tem gente querendo ser uma autoridade em determinado assunto sem, necessariamente, já ter feito algum trabalho relevante. E aí entra o exemplo do Photoshop. Não adianta você ter uma foto legal que lhe rendeu 100 curtidas ou ser seguido por 1000 pessoas em alguma rede social se seu trabalho não é relevante. Parece brincadeira o que vou dizer agora, mas a real é que o tal do empreendedorismo de palco virou algo tão grande e visado que tem gente entrando nessa apenas pra “ficar famoso“.
Ontem eu publiquei uma frase do Jim Rohn nas minhas redes sociais que exemplifica o que estou querendo dizer:
“Pessoas de sucesso fazem o que pessoas mal sucedidas não querem fazer. Não queira que a vida seja mais fácil. Deseje que você seja ainda melhor”.
Se você tenta pegar atalhos e seu trabalho não é relevante, uma hora ou outra será desmascarado. A internet não perdoa, já tivemos exemplos disso. Trabalhe duro em suas habilidades, mas não tente ser o cara que aumenta os resultados em 439% com apenas um hack.
Eu já contei aqui como construí uma autoridade digital do zero e me tornei um Top Voice do LinkedIn. E foi do zero mesmo, não é clickbait. Eu utilizo muitas técnicas de marketing pessoal no que faço, o tal do “fazer com que as pessoas saibam disso” do item 2, mas em contrapartida, ofereço conteúdo útil para quem me segue. E a métrica que observo para medir se meus textos estão sendo úteis não é a quantidade de visualizações, mas sim o engajamento — principalmente a quantidade e a qualidade dos comentários.
Recentemente, comecei a escrever para a versão brasileira do The Huffington Post, o jornal online mais lido do mundo. Independente de eu ter saído numa lista do LinkedIn de profissionais que se destacaram na rede no último ano ou de ter milhares de seguidores nas redes sociais, os editores do jornal olharam, principalmente, a qualidade dos meus textos. Minha biografia certamente chamou atenção, mas ela não seria nada sem um trabalho relevante por trás.
Ou seja, no final das contas, mesmo numa cultura muitas vezes baseada nas aparências, o que constrói uma reputação é e sempre será a qualidade do seu trabalho, não a foto editada no Photoshop ou o hack infalível dos 439%.
Ninguém consegue fingir ser quem não é por muito tempo
O grande problema de seguir essas técnicas infalíveis — além de uma possível frustração — é que, depois de um tempo, todo mundo está fazendo as mesmas coisas. Seja você um escritor, palestrante, infoprodutor ou YouTuber, seguir as modinhas pode ter um efeito contrário do esperado. Por que? As pessoas se cansam facilmente! Os que ano passado eram considerados gurus, hoje são vistos como picaretas. Isso ocorre porque todos seguem uma fórmula e não são genuínos. E, com o tempo, as pessoas percebem isso. E aí, meu amigo, adeus reputação!
Fazer o que você gosta lhe dá uma vantagem que nenhum hack proporcionará: você pode ser genuíno. E se as pessoas não gostarem do seu verdadeiro eu, quem se importa? O mundo é grande o suficiente para encontrar pessoas que gostem de você.
“Faça o que gosta e faça isso honestamente“, Rite of Spring, Angels & Airwaves.
Quando você cria um perfil numa rede profissional como o LinkedIn, por exemplo, é tentador descrever uma imagem melhor em comparação com a realidade. É o famoso Cara do Xerox que vira o Operador de Fotocopiadora, como naquele filme “O Homem que Copiava“, com o Lázaro Ramos.
E eu entendo isso. Nós vivemos em um mundo fictício. O mundo das fake news. As pessoas fabricam histórias o tempo todo. E nós amamos. E as compartilhamos sem checar a veracidade dos fatos. É por isso que somos viciados em filmes e programas de TV — e em compartilhar links de textos que lemos apenas o título.
Mas, no final das contas, tudo se resume ao parágrafo abaixo.
Reputação é algo externo. O caráter é o equivalente interno. Portanto, sempre dê atenção ao seu caráter. Não a sua reputação. Ninguém consegue fingir ser quem não é por muito tempo.