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Esses tempos me perguntaram em uma live no Instagram por que eu escrevo. Respondi que escrevo para viajar e viajo para escrever. Soa bonito, é poético, é uma boa frase de efeito para as redes sociais, mas a verdade é que me escondi atrás de um clichê por não conseguir, naquele momento, achar uma explicação plausível.

Se voltarmos no tempo e pensarmos nos primeiros viajantes e em suas crônicas, responder tal questionamento parece uma tarefa mais fácil do que a do escritor viajante de 2022.

Exploradores, conquistadores, mercadores e navegadores se aventuraram em um mundo que lhes era completamente desconhecido e sobre o qual não havia fonte de informação. De Heródoto na Grécia antiga a viajantes do século XIX como Charles Darwin ou Richard Burton, passando por Jack Kerouac no século XX e até Anthony Bourdain no século XXI, todos eles tinham algo em comum: além de abrir o caminho para novos viajantes, suas crônicas alimentaram a imaginação popular e moldaram realidades até então desconhecidas.

Em 2022, quando viajar está a um clique de distância e podemos ver fotos até do banheiro do hotel ou Airbnb que reservamos, a palavra “explorar” torna-se quase utópica. Qual é o significado de viajar? E por que escrever sobre nossas viagens? Essas questões – que à primeira vista podem parecer existenciais – são fundamentais quando nos sentamos para escrever (principalmente se queremos que nossa escrita seja algo mais do que um hobby).

Se é uma primeira viagem, é normal que a primeira resposta que venha à mente tenha a ver com autoconhecimento, ou com o desafio interno que implica embarcar numa viagem longe de casa. Nesse ponto, não importa que a internet esteja cheia de blogs, crônicas de viagem, guias turísticos em todos os idiomas e vídeos no YouTube: viajar sempre implica aventura; e aventura sempre gera medo.

Sentimo-nos exploradores – mesmo que seja da nossa própria vida. Queremos saber pelos nossos olhos e não que nos digam, queremos saber que podemos, que seremos capazes de lidar com qualquer imprevisto e sair ilesos, queremos sentir cheiros e sabores, queremos experimentar em primeira pessoa tudo o que um destino tem a nos oferecer.

Viajamos, então, para viver. E, quando temos a experiência, quando viajamos e descobrimos que não era tão perigoso, quando a adrenalina e a emoção tomam conta do nosso corpo e dos nossos olhos, queremos partilhar.

Por quê?

Porque nos sentimos tão vivos que sentimos a necessidade de espalhar a palavra, sentimos a necessidade de contar o que vimos, o que sentimos, o que experimentamos. Escrevemos sobre viagens porque queremos encorajar uma pessoa que seja a sair da sua zona de conforto e comprar uma passagem só de ida para a Tailândia e explorar a ilha de Koh Phangan em uma motoneta envenenada.

Foto: Koh Phangan, Tailândia, abril de 2022. Arquivo pessoal.
Foto: Koh Phangan, Tailândia, abril de 2022. Arquivo pessoal.

Para quê?

Escrevemos para motivar os outros a viajar. E, embora a resposta seja boa, soe bonito em uma palestra, embora as intenções sejam válidas, não demorará muito até percebermos que a razão por si só não é suficiente.

Por quê?

Dois motivos.

Primeiro porque depois de um tempo escrever para motivar os outros será monótono. Você viverá uma gama tão ampla de experiências, de ideias, de preocupações, que ficar atrás da cortina da motivação será uma espiral sem saída.

Segundo porque a internet não precisa de mais pessoas dedicadas a inspirar potenciais viajantes a sairem de suas zonas de conforto. Pelo contrário, a internet está saturada de viajantes – alguns com anos de experiência na estrada e no papel; outros nem tanto – dando diquinhas disso e daquilo, escrevendo roteiros, compartilhando mais um guia sobre Nova York. Por isso descobrir qual é a nossa verdadeira motivação para viajar é fundamental para entender qual será a nossa motivação para escrever – e tudo isso tem a ver com conhecer a nós mesmos, conhecer o tipo de história que queremos contar.

Muitos estão convencidos de que a verdadeira exploração era o que era feito antes (antes da internet, antes de Thomas Cook inventar o turismo como o conhecemos hoje). Há alguma verdade neste ponto: cada vez menos cantos do planeta são inacessíveis aos viajantes. No entanto, as primeiras crônicas foram traçadas pela objetividade, pela informação pura e dura e pelo olhar ambicioso do cronista, que via e zelava pelos seus interesses ou os de sua coroa – vide a carta de Pero Vaz de Caminha.

Não há abundância da própria voz ou busca de estilo nesses textos, nem há um aprofundamento nas culturas que foram descobertas que vão além do que poderia ser útil aproveitar. Ou seja, enquanto os primeiros cronistas se destacavam por sua objetividade, os relatos de viagem atuais são enriquecidos pela subjetividade.

“Viagens não são sempre bonitas. Não são sempre confortáveis. Algumas vezes dói, pode até doer o coração. Mas está tudo bem. A jornada te muda; ela deveria te mudar. Ela deixa marcas na sua memória, na sua consciência, no seu coração e no seu corpo.” (Anthony Bourdain)

O olhar do(a) autor(a), a empatia, os interesses pessoais, as pessoas que cruzam nossos caminhos. É esse conjunto de emoções e experiências que torna uma narrativa de viagem interessante, que responde os porquês e os para quês.

Portanto, para descobrir qual é a nossa motivação, é importante nos perguntarmos quem somos, o que nos interessa, o que nos move e o que nos excita, para então começar a viajar e escrever a partir daí.

É por isso que eu escrevo.


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Escritor, educador e TEDx Speaker. Autor de "Nômade Digital", livro finalista do Prêmio Jabuti.
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