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Dos 24 aos 27 eu trabalhei numa faculdade – sou de 1989, faço 29 no dia 25 do próximo mês. O ambiente era legal, as pessoas idem. Foi um período de muito aprendizado, mas que quase me levou à depressão.

O motivo?

Eu vesti a camisa da empresa, mas ela não vestiu a minha.

Isso é o que eu pensava na época, pelo menos. E dizia para meus amigos. Hoje vejo que, na verdade, antes de vestir a camisa da empresa, eu não havia vestido a minha. Estava longe de ser o protagonista da minha vida profissional. E aí não há empresa no mundo que te faça feliz.

Da empolgação inicial ao primeiro banho de água fria

Em qualquer reunião motivacional de qualquer empresa no Brasil, alguém dirá que os colaboradores têm que “vestir a camisa da empresa“. Depois de “pensar fora da caixa“, esse deve ser o clichê mais bradado por aí.

Meu primeiro ano naquela faculdade foi incrível. O plano era realizar um ótimo trabalho, mostrar como eu poderia ser útil e ganhar uma promoção já no próximo ano. Ou seja, a ideia era levar a sério esse negócio de vestir a camisa da empresa.

Os dois primeiros objetivos foram realizados com excelência logo no primeiro ano. Os feedbacks dos gestores foram os melhores possíveis. Mas, aí veio o primeiro banho de água fria. Promoção? Não ganhei nada além de alguns tapinhas nas costas.

No segundo ano decidi que teria que apelar para o segundo clichê: pensar fora da caixa. Pensei tanto que nas reuniões, aquelas que poderiam ter sido um e-mail, todos olhavam para mim quando surgia na mesa a pergunta “alguém tem alguma ideia sobre isso?”.

Virei queridinho. Ganhei o apelido de “menino de ouro” e mais um ano se passou.

De novo, nada mudou.

E aí você começa a ouvir os mais velhos:

Depois de 15 anos trabalhando aqui consegui uma promoção“. Nada animador.

Eu consegui uma promoção em 2 anos, mas porque o antigo gestor se mudou de cidade. Meu plano agora é me aposentar aqui“. Ok, estar no lugar certo na hora certa também ajuda.

No terceiro ano a desmotivação me pegou por completo. De “menino de ouro” me tornei um problema. Meu rendimento caiu e minhas ideias sumiram. Os feedbacks, antes promissores, se tornaram cobranças – com razão. Mas eu ainda precisava pagar minhas contas. Assim como você.

E isso não é exclusividade minha: a falta de reconhecimento é uma das principais razões que fazem profissionais se demitirem de seus empregos.

O problema é que muitos acabam se acostumando com uma realidade do tipo e não conseguem enxergar uma mudança no horizonte. E pior: se tornam reféns dos salários que pagam suas contas.

Você nunca será protagonista enquanto trabalhar apenas para pagar as contas

O capitalismo, embora seja o sistema econômico com mais cases de sucesso, é curioso.

Tyler Durden, personagem do clássico “Clube da Luta“, tem uma fala interessantíssima que exemplifica isso.

“Que droga, uma geração inteira enchendo tanques de gasolina, servindo mesas ou escravos do colarinho branco. Os anúncios nos fazem comprar carros e roupas, trabalhar em empregos que odiamos para comprar as porcarias que não precisamos. Somos uma geração sem peso na história, cara. (…) Todos nós fomos criados vendo televisão para acreditar que um dia seríamos milionários, e deuses do cinema, e estrelas do rock. Mas nós não somos. Aos poucos vamos tomando consciência disso. E estamos muito, muito revoltados”.

A parte em negrito na citação é pesada. E verdadeira. Mas, vou um pouco além do pensamento do personagem interpretado por Brad Pitt: trabalhamos em empregos que odiamos porque precisamos sobreviver. Precisamos de um lugar para morar. Precisamos de comida, luz, água, internet e outras necessidades básicas. Sempre foi assim.

E nessa de sobreviver aceitamos qualquer trabalho que aparecer. Principalmente se você é jovem. A boa notícia é que, diferente do tempo dos nossos pais e avós, não precisa mais ser assim. Não depois de um tempo, pelo menos.

Sim, no começo você ainda vai se foder muito. Estágio, primeiro emprego, quem sabe até uma demissão. Mas, o que eu aprendi é que não adianta ser imediatista. E nós somos, eu sei. Principalmente se você é um millennial. Queremos as coisas para ontem. Comparamos nossas idades com as dos famosos do Instagram ou dos prodígios do Vale do Silício. E isso só piora as coisas.

Vimos ao longo do texto que uma promoção pode acontecer em 15 ou em 2 anos. Isso onde eu trabalhava. A real é que as coisas têm seu tempo e nem sempre você estará no lugar certo e na hora certa. Muitas vezes você terá que criar suas próprias oportunidades. E a lição abaixo pode encurtar o caminho.

Vestir sua própria camisa é aprender a dizer “não”

Na ânsia de ser reconhecido pelo seu trabalho e ganhar a tão sonhada promoção, você tenta abraçar o mundo. Você veste a camisa da empresa. Trabalha até mais tarde. Aceita mandos e desmandos. Sempre com o rabinho entre as pernas.

O que você esquece nesse tempo é de vestir a sua própria camisa. Se torna, então, um coadjuvante em sua própria vida profissional. Seus objetivos, sua promoção, tudo isso passa a ser segundo plano. Você coloca sua carreira em modo automático. Deixa acontecer naturalmente, como diz aquela música.

“É bem verdade que, da maneira dinâmica com que o mercado de trabalho atua nos dias de hoje, o conceito de ‘plano de carreira’ ficou um pouco obsoleto. Mas, no pouco espaço de controle nos destinados atualmente, é difícil determinar qual é o tamanho da influência que de fato exercemos sobre nossa atuação profissional”. – Guilherme Odri.

Para exercer alguma influência no modo como sua carreira se desenvolve, na minha opinião, você precisa aprender a dizer “não”. Isto é, se seu objetivo é ser um diplomata, foque nisso. Não aceite nada que não contribua com o seu desenvolvimento como futuro diplomata. Tudo bem, você ainda terá que pagar suas contas, mas não aceite novos projetos que não estejam alinhados com os seus valores.

Por exemplo, enquanto trabalhava na faculdade, uma professora de inglês pediu demissão uma semana depois de um curso ter início. Não havia tempo hábil para a contratação de um novo professor e, como eu era o único na faculdade que dominava a língua, me ofereceram o “desafio”.

Sim, “desafio”, entre aspas. Financeiramente, meu salário continuaria o mesmo, mas eu trabalharia o dobro. Nessa época eu já pensava em me demitir, mas vi ali uma última cartada para ser reconhecido dentro da empresa. Ledo engano. Embora a experiência tenha sido legal, adiei meu objetivo principal, que era trabalhar com a escrita, por mais um ano. Se tivesse dito “não”, talvez não fosse bem visto pela direção da faculdade, afinal, não estaria vestindo a camisa da empresa, mas este é um exemplo de como eu deveria ter vestido a minha camisa.

Eu não fui promovido – então me promovi

O tempo passou e eu sofri calado… brincadeira! Mas, foi quase isso. Assim que as aulas de inglês chegaram ao fim, tracei um planejamento para sair da empresa. Isso aconteceria em 1 ano.

Passei a ser mais ativo no LinkedIn, a atualizar meu blog regularmente e a criar uma rede de contatos baseada na qualidade. A partir daí, qualquer decisão que influenciasse minha carreira seria tomada de acordo com meus novos valores. E meus novos valores estavam bem claros: minha camisa vem antes.

Os primeiros freelas começaram a aparecer e, durante 6 meses, conciliei o trabalho regular com o serviço autônomo. No final desse período, me demiti. Ou, melhor, me promovi!

Deixei de ser um mero coadjuvante e passei a ser o protagonista da minha carreira.

Na definição do antigo dicionário Aurélio, eu empreendi.

em·pre·en·de·do·ris·mo

(empreendedor + -ismo) substantivo masculino

1. Qualidade ou caráter do que é empreendedor.

2. Atitude de quem, por iniciativa própria, realiza ações ou idealiza novos métodos com o objetivo de desenvolver e dinamizar serviços, produtos ou quaisquer atividades de organização e administração.

Mais importante do que pagar as contas, minha nova condição como freelancer me trouxe os valores que eu mais dou valor em minha carreira e que não estavam alinhados com a antiga empresa: flexibilidade e liberdade. Percebi que, no final das contas, não se tratava apenas de uma promoção ou de receber um melhor salário. Minha insatisfação maior estava atrelada à falta desses dois valores.

O clichê ideal seria dizer que isso foi a melhor coisa que me aconteceu, afinal, por conta disso me encontro onde estou hoje, porém, isso, não foi exatamente o que aconteceu.

Eu não fui promovido, mas encontrei uma maneira de transformar essa decepção em um ponto de virada na minha carreira e na minha abordagem para construir o tipo de vida profissional que eu queria.

Eu me tornei protagonista.


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Escritor, educador e TEDx Speaker. Autor de "Nômade Digital", livro finalista do Prêmio Jabuti.
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