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Um dos mantras da autoajuda é que você deve sair da sua zona de conforto. De preferência, de tempos em tempos. Se desafiar, essas coisas. Especialmente quando o assunto é trabalho — e, por favor, não me xinguem nos comentários, mas durante todo o artigo o tema central será a zona de conforto no trabalho, então não quero dizer que na vida pessoal as coisas funcionem da mesma maneira.

Você lê por aí:

  • Largue seu trabalho e empreenda!
  • Pare de perder tempo naquele trabalho chato e persiga suas paixões!
  • O impossível é questão de opinião!

Beleza. São frases bonitas. Empolgam. E eu mesmo já segui algumas delas. E o que eu aprendi é que existe o momento certo para sair ou ficar na zona de conforto.

Por exemplo:

Ficar em nossas zonas de conforto pode significar nunca tentar algo novo, nunca definir grandes metas, nunca explorar novos lugares ou nunca conhecer novas pessoas. Porém, isso não significa que a zona de conforto é algo necessariamente ruim. Afinal, saímos dela, na grande maioria das vezes, para atingirmos algum objetivo e voltarmos para ela, concordam?

Saindo da zona de conforto — e voltando pra ela

Após ganhar um certo reconhecimento pelos textos que escrevo, recebi alguns convites para palestrar. Alguns conhecidos — estranhos, na verdade — me dizem que adorariam assistir uma palestra minha. Até agora, rejeitei todos estes convites. E não tenho a menor vontade de palestrar. Isso significa que nunca palestrarei? Não. Mas hoje é algo que não faz sentido pra mim.

Explico.

Até pouco tempo atrás eu trabalhava numa faculdade, no setor comercial. Eu estava fora da minha zona de conforto. Totalmente deslocado. Nunca me senti um bom vendedor. Eu fazia coisas que muitas vezes não tinha ideia de como fazer. E aí lia no Facebook uma frase motivacional que dizia para eu sair da minha zona de conforto e largar aquele emprego chato. Mas… peraí! Aquela definitivamente não era a minha zona de conforto! Eu estava totalmente desconfortável! E agora?

Desde que pedi demissão — não por impulso, mas após um longo planejamento —, me senti, pela primeira vez em muito tempo, extremamente realizado com o que estou fazendo. Eu amo escrever e finalmente estou sendo pago pra isso.

A verdade é que cheguei numa zona de conforto. E eu amo ela! Pra mim é onde a verdadeira magia acontece. Hoje faço o que gosto e ainda tenho mais tempo para ficar com as pessoas que amo. Foi esse conforto que sempre busquei.

E dito isso voltemos a palestra.

Eu não tenho problema algum em falar em público. Já o fiz algumas vezes. Quem me conhece pessoalmente sabe que tenho desenvoltura pra isso. A questão é que eu realmente não gosto. Meu meio de comunicação, onde me sinto confortável, é a escrita.

Quando deixei meu emprego, que estava fora da minha zona de conforto, a ideia era não precisar mais fazer coisas que não gosto — obviamente que isso foge do controle, meu trabalho como produtor de conteúdo não é só alegrias. Porém, se estou feliz com o que faço e tenho a opção de não fazer coisas que não considero legal, por que diabos eu sairia da minha zona de conforto pra isso?

Dinheiro? Depois de um tempo você vê que não é tudo.

Eu descobri que faço melhor o meu trabalho quando não me preocupo com dinheiro. Não me interpretem mal, não fiquei rico e continuo tendo que pagar minhas contas. A diferença agora é que tenho um propósito.

Estagnação é diferente de zona de conforto

Nossa vida é composta por fases. Nos últimos anos passei a maior parte do tempo fora da minha zona de conforto. E isso, naquele momento da minha vida, era necessário. Todo aquele esforço foi necessário para que eu passasse para uma nova fase: o retorno para a zona de conforto.

E não confunda zona de conforto com estagnação. Enquanto a primeira, na minha opinião, é onde a magia acontece, a segunda ocorre quando você está fora da sua zona de conforto e aceita isso. Quando aceita que aquele é o final da linha e você não tem como mudar aquela realidade.

Muitos podem dizer que trabalhar por conta própria ou empreender é estar fora da sua zona de conforto. Mas a verdade é que, para as duas coisas, eu não corri grandes riscos. Assumi, lentamente, novos e maiores desafios. Portanto, acho ridículo quando vejo alguém falando que você deve sair imediatamente da sua zona de conforto. Construa uma base sólida. Fique confortável antes de fazer coisas assustadoras.

O que há fora da zona de conforto?

Você já pisou fora da sua de conforto? O que encontrou lá? Um saco de dinheiro? Acho que não.

Esse negócio de sair da zona de conforto é história. Bullshit. O discurso pode até motivar algumas pessoas, mas você não precisa acreditar se não quiser. É exatamente como quando afirmam que você tem que acordar cedo se quiser ser bem sucedido. Quem disse? — e olha que eu acordo cedo, mas a verdade é que cada ser é único.

Eu acredito nisso: Se você sair da sua zona de conforto, apenas encontrará mais trabalho esperando por você. Não é nada demais. Não há magia envolvida. Apenas sangue, suor e lágrimas.

Escritor, educador e TEDx Speaker. Autor de "Nômade Digital", livro finalista do Prêmio Jabuti.
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