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Há uma velha corrente de pensamento que associa jogos violentos à violência real. Ou, então, que as crianças hoje em dia passam muito tempo jogando videogame e isso é péssimo. Geralmente, quem diz esse tipo de coisa, por algum motivo, nunca segurou um controle.

E, cá entre nós, o ser humano tende a criticar aquilo que não conhece simplesmente pelo prazer de se sentir o diferentão. Então, quando sai uma matéria sobre os supostos pontos negativos que podem estar relacionados aos videogames, como obesidade infantil e lesões por esforço repetitivo, por exemplo, esses caras certamente se limitarão à essas informações e ficarão com a cabeça fechada para os benefícios proporcionados pelos jogos virtuais.

Existem vários e vários estudos comprovando como videogames podem ser bons para a aprendizagem, resolução de problemas, lógica e criatividade. Independente da sua idade. Mas, este não é um artigo científico. Quero contar a minha experiência com os videogames.

Eu e os videogames

Ganhei um Mega Drive quando tinha 7 anos de idade. Ou seja, 20 anos atrás — 1996. Eu jogava praticamente todos os dias e, acredite, tive uma infância normal. Joguei muito futebol com os garotos da rua, taco, bolinha de gude e todas essas brincadeiras das crianças dos anos 90. Afinal, eu era uma criança e não trabalhava, ou seja, tinha tempo de sobra para fazer o que quisesse.

Naquela época, praticamente todos os jogos eram em inglês — e alguns em japonês. Este foi meu primeiro contato com o idioma e, se hoje sou fluente na língua inglesa, devo muito às horas que passei jogando videogame em minha infância.

No meu aniversário de 13 anos ganhei um Playstation 1. Era comum acharmos jogos de procedência duvidosa por R$10,00 nos camelôs — se hoje os jogos originais tem um preço elevado, imagine em 2002. Porém, o ponto aqui não era que já contribui com a pirataria, e sim que devido à ela eu tinha um leque maior de opções. Ou seja, passei a jogar muito mais videogame.

Eu já havia jogado o GTA 1 na casa de um primo certa vez, mas foi com o meu Playstation 1 que passei várias e várias tardes jogando GTA 2. O polêmico jogo é muitas vezes criticado por sua violência excessiva — você praticamente pode fazer o que quiser: roubar carros, matar pessoas e por aí vai. Adivinhe só: desde 2002 jogo os games da franquia e nunca roubei um carro ou matei uma pessoa. GTA até hoje só contribuiu para a construção do meu vocabulário em inglês — principalmente com termos coloquiais, usados no dia a dia e que não encontramos nos livros de gramática — e na resolução de problemas, afinal, você passa boa parte da história fugindo da polícia ou de gangues rivais, então tem que pensar rápido.

Tem gente também que fala sobre como os videogames tornam as crianças anti-sociais. Escuta essa, então. Praticamente toda semana eu e meus amigos de escola organizávamos campeonatos de Winning Eleven — o Pro Evolution Soccer da época. Além da socialização, o futebol virtual nos ensinou sobre recompensas. Nossos embates épicos só tinham início após terminarmos nossos deveres.

Quando cheguei naquela fase da vida em que saímos da escola e pensamos que não podemos mais fazer as mesmas coisas de quando éramos crianças, deixei os videogames de lado. Que arrependimento. Em 2014, já aos 25 de idade, comprei um Playstation 3. E, agora, posso te listar os benefícios de jogar já como um adulto. Acho que vale até uma listinha. 3 razões para você jogar video-game. Vamos lá, então.

1 – Você aprenderá a liderar e atingir metas

Jogos de estratégia são incríveis. Recrutar aliados, dominar territórios, etc. Soa familiar? Fazemos isso todos os dias em nossas empresas. Alguns dos elementos-chave destes jogos são exatamente os tipos de coisas que você precisa fazer para ter sucesso como um líder.

Outro ponto legal nos consoles de nova geração são os troféus que você recebe ao completar determinada atividade. No Playstation, eles são divididos entre bronze, prata e ouro, além da platina, que você só consegue após desbloquear todos os outros troféus. Ou seja, ela é a meta. Eu a consegui no jogo de corrida Gran Turismo após muitas horas de jogo e prática. Foi preciso muita persistência e em vários momentos tive que superar tempos de voltas na pista que pareciam impossíveis. Mas consegui. Novamente, lhe soa familiar?

2 – Recarrega suas baterias

Se meu dia foi cansativo, a primeira coisa que faço ao chegar do trabalho é ligar o videogame — e, dependendo do dia, abrir uma cerveja para acompanhar. Nessas horas, relaxo e me divirto com algum jogo esportivo. Geralmente, Fifa — abandonei o Pro Evolution Soccer em 2014.

Esse hábito realmente recarrega minhas energias. Hoje há uma pressão social para que aproveitemos nosso tempo com atividades de aprendizagem ou relacionadas ao trabalho, mas, acredite, você não será mais produtivo se sua cabeça não estiver no lugar. Há hora pra tudo. Tirar um tempo pra você e relaxar tem que estar na sua agenda.

3 – Seu cérebro agradece

A cada troféu que ganhava no Gran Turismo, eu sentia que estava mais perto da minha meta e, além de sentir prazer em continuar jogando, ficava mais motivado. Isso se deve ao fato do aumento do nível de dopamina — neurotransmissor fundamental para a motivação, foco e produtividade — que é o que lhe dá a sensação de recompensa quando você faz alguma coisa. É o sentimento que faz você ter vontade de ir para um próximo nível.

Pela última vez, lhe soa familiar?

***

Essa é a minha experiência com os videogames. Se hoje falo inglês, sou criativo e ótimo na resolução de problemas, devo muito às horas que passei jogando. A ótica que quero mostrar é que os jogos não são apenas entretenimento. Há muito aprendizado por trás deles.

Mas, o maior ensinamento que você talvez possa tirar disso tudo é: não julgue algo que você não conhece. E isso serve para todas as áreas da vida. Sério. Se alguém se sente bem desempenhando uma atividade que não prejudica terceiros, por que se importar?

Menos julgamento e mais ação. Vamos manter nossas cabeças abertas.

Ah, e se você quiser jogar online comigo, pode me adicionar na PSN. Por lá sou o MattSouza23. Vamos socializar!

Escritor, educador e TEDx Speaker. Autor de "Nômade Digital", livro finalista do Prêmio Jabuti.
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