A vitrola toca o magistral “Kind of Blue”, disco do gênio Miles Davis lançado em 1959, enquanto a lua cheia ilumina a sacada do meu apartamento. Falta apenas uma dose de whisky para acompanhar – na verdade tomei umas Bavárias, cerveja que sofre um certo preconceito por ser a mais barata entre as comuns.
Esse cenário – exceto pelas Bavárias – me faz parecer um alguém com gosto refinado, um entendedor das artes. Do jazz, conheço apenas os clássicos. Davis, Coltrane, Evans, Parker e etc, graças ao livro “1001 Discos Para Ouvir Antes de Morrer”, presente de minha noiva – na época namorada – em algum Natal que ficou no passado.
Aparências. Uma pena eu não ter um “pau de selfie” para registrar esse momento e publicar a foto na minha conta – que também não tenho – no Instagram. Aliás, eu deveria ter feito isso quando estive no MoMA (Museum of Modern-Art) em Nova York. Uma foto por lá renderia várias curtidas, além do status de alguém culto, que entende e aprecia a arte.
A verdade é que quando estive no MoMA me senti um completo ignorante. Não vi nada demais nas obras de van Gogh, Picasso e Cézanne – e me sinto mal por isso. O último, inclusive, só sei da existência por causa de uma novela da Rede Globo.
Achei graça da feiura de Frida Kahlo e tirei umas fotos das obras de Andy Warhol, aquele da banana do Velvet Underground. Mas, quando entrei em uma sala e vi três quadros em branco, lado a lado, fui obrigado a me perguntar: “Isso é arte? Eu fazia melhor na 4ª série”.

Talvez me falte sensibilidade. Talvez eu tenha nascido em um país que não valorize a arte e tenha sido corrompido. Talvez eu esteja bêbado. Talvez. A única certeza é que saí de um dos museus mais famosos do mundo com a sensação de ter jogado dinheiro fora. #ignorante